quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Capitulo XIV


O dia já havia amanhecido quando Rachel despertou. Ao olhar para o lado percebeu que Amanda já não estava mais nada cama. A menina, no entanto, recolheu, vestiu suas roupas e em seguida foi até a sala do pequeno apartamento. Na porta da sala havia um bilhete com os seguintes dizeres.
Eu quero te tocar
Você quer me tocar também
Esse é um crime perfeito.
Rachel sorria enquanto lia o bilhete, antes de sair à menina o guardou no bolso. Ela não sabia se veria Amanda outra vez, afinal, não era a primeira vez que ela tinha uma noite fantástica com uma garota bonita e desconhecida. Logo, o sorriso de Rachel se esvaiu. Seus pensamentos estavam em Mischa. O sexo e o álcool havia sido bom, mas não o suficiente para apagar Mischa de suas lembranças. A menina controlou suas lágrimas e seguiu seu caminho. A noite havia sido fria, mas a manhã estava quente e agradável, portanto, havia mais pessoas pelas ruas e a praça em que Rachel visitara no dia anterior estava cheia de pessoas sorridentes comemorando a chegada do verão. Rachel desejou que a nova estação aquecesse não apenas a sua pele, mas o seu coração.
Rachel voltara para o apartamento de Blair já que todas as suas coisas estavam lá. Logo, Rachel voltaria para a Dinamarca e deixaria de vez tudo para trás. Quando chegou ao apartamento bateu na porta e ficou a esperar por Blair, que não demorou.
- Bom dia. – disse a menina enquanto abria a porta e segurava uma caneca de café na outra mão.
- Bom dia. – Rachel sorriu irônica.
Blair ignorou a presença de Rachel e continuou a tomar o seu café na cozinha enquanto lia uma revista de moda. Rachel se sentou no sofá e ficou a fita-la. Ela usava pantufas e tinha os cabelos presos em um coque. Estava fofa.
- Não vai me perguntar como foram as coisas? – perguntou Rachel após alguns minutos em silencio.
- Levando em consideração o fato de você estar cheirando a álcool e cigarro, acho que as coisas não foram tão boas, mas se eu considerar o fato de você ter dormido fora e ter um sorriso no canto dos lábios, talvez não tenha sido tão ruim. – a menina sorriu após proferir tais palavras e voltou sua atenção para a revista.
- Pode ao menos me ouvir sem decifrar tudo sobre mim pelo menos uma vez na vida? – Rachel se debruçou no balcão frente a Blair.
- Sim. – Blair riu e deixou um pouco de café cair em sua coxa, mas não se importou.
Rachel se sentou no balcão e contou como havia sido desde o momento em que entrara na casa de Mischa até quando bateu a porta da casa da garota. Blair a ouvia com uma expressão intacta no rosto. Não estava surpresa, não estava feliz, não estava triste, apenas ouvia a menina. Rachel após finalizar a história tinha lágrimas nos cantos dos olhos.
- E então foi isso. – Rachel esfregou os olhos e passou a mão pelos cabelos.
- Eu sinto muito por isso. – Blair finalmente a fitava. – Mas acredito que isso não seja totalmente verdade.
- Como assim? – Rachel a encarava. Seus olhos azuis brilhavam feito o mar no final da tarde.
- Eu via como ela te olhava, e mais do que isso, eu vi como ela me olhava. – Blair segurou Rachel pelo queixo. – Não desista tão fácil. Ela é só uma garotinha confusa e você é um tornado. – Blair sorriu.
- O que eu devo fazer? – Rachel fitou-a nos olhos. Seu coração batia lentamente e um sentimento de calma e tranquilidade lhe invadia ao fitar aqueles olhos azuis.
- Quer mesmo pedir conselhos sobre relacionamentos para mim? – Blair sorriu. Seu sorriso era lindo, havia sido desenhado por algum anjo no céu.
- Tem razão. – Rachel riu. – Às vezes me esqueço de que você é minha ex-namorada e que também já partiu o meu coração.
- Não seja melodramática. Há dias atrás você estava me odiando por ter aparecido na sua vida, e agora está aqui na minha frente sorrindo. – Blair passou a mão pelo rosto da menina. – Eu senti tanto a sua falta.
- Você está me deixando confusa. – Rachel a fitou com os olhos.
- Rachel não me olhe assim, você está apaixonada pela Mischa e eu não quero ser seu estepe. – a menina se levantou e sorriu ironicamente. – Eu tenho a minha sensualidade e dignidade ainda.
Rachel viu a menina ir para a sala e ficou a sorrir. Era estranho como ela se sentia bem ao lado de Blair. Aquele lugar, aquele verão que se iniciava, tudo estava em perfeita sintonia com o sorriso dela. Era como se o destino estivesse brincando outra vez. Era como se ela estivesse se sentindo segura ao lado de Blair, era como se ela estivesse se sentindo viva outra vez. Era como se nada tivesse acontecido nos últimos anos.
- O que vai fazer hoje? Procurar a Mischa outra vez? – perguntou Blair pintando as unhas do pé no sofá da sala quebrando o longo transe de Rachel.
- Hã? Acho que não tenho o que fazer lá. – Rachel fitou o chão e mordeu os lábios.
- Vem aqui. – chamou Blair com um olhar preocupado.
Rachel se sentou ao lado da menina e essa a puxou para um abraço. Logo, Rachel estava deitada no colo da menina e essa fazia carinho em seus cabelos. Blair tinha um sorriso sereno no rosto e Rachel fitava o teto.
- Blair...- chamou Rachel.
- Não diga nada. – a menina respondeu com a voz suave e serena.
Blair continuou a acariciar os cabelos de Rachel até que a menina adormeceu em seus braços. A garota deslizou sua mão pelo rosto da menina e uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Não havia palavras que pudessem explicar todo o sentimento que Blair tinha por aquela garota. Ela jogara tudo pela janela para ver Rachel ser feliz. Ela aceitara levar a culpa por toda a sua vida. Ela aceitara ser o lado ruim da história. Ela aceitara a solidão e a dor, apenas para ver Rachel sorrir. Porém, ela não podia negar que era bom tê-la em seus braços, mesmo que não houvesse futuro ou planos.
Após alguns minutos Blair se levantou calmamente para não despertar Rachel. A menina foi para o banheiro tomar banho e enquanto se despia sentiu seu nariz sangrar. A expressão no rosto da menina era de irritação, como se já não suportasse mais isso. Sem perder tempo, Blair se enrolou na toalha e foi até a cozinha pegar um de seus remédios. Rachel se remexeu no sofá, o que fez Blair prender a respiração por um segundo e voltar rapidamente para o banheiro. Enquanto tomava banho à menina via o sangue escorrer, porém, não se surpreendia. Após o sangramento cessar Blair saiu do banho.
- Vai sair? – perguntou Rachel quando viu Blair passar pela sala com os cabelos molhados.
- No meu mundo as pessoas não tomam banho apenas quando vão sair. – Blair riu. – Aliás, você precisa de um banho, o cheiro de álcool em você está me dando enjoos.
- Está grávida é? – perguntou Rachel se sentando no sofá e sorrindo.
- Com toda certeza! – Blair respondeu fitando e jogando lhe uma almofada no rosto.
- Vá tomar banho, vamos almoçar fora! – Blair disse enquanto secava os cabelos. – Tenho que comprar umas coisas na cidade e respirar um ar que não seja poluído por álcool e nicotina. – a menina riu ironicamente.
- Eu não demoro. – Rachel revirou os olhos e foi tomar seu banho.
Após quinze minutos Rachel havia terminado seu banho e vestia um short preto com uma regata que tinha a bandeira da Irlanda estampada. Após se olhar no espelho Rachel se lembrou que estava vestindo roupas que comprara quando viajara para esquecer Blair e agora estava com as roupas e Blair. A vida é mesmo irônica.
- Vamos? – perguntou Blair que vestia um vestido de tecido leve na cor verde.
- Claro! – Rachel sorriu ao ver que a menina estava linda. – Aonde vamos?
- Lembra-se daquele restaurante que fomos quando estivemos aqui? Que você disse que nunca mais comeria em outro lugar para não esquecer o sabor da comida? – Blair ria enquanto trancava a porta.
Rachel riu e ficou eufórica ao se lembrar do quão fantástica a comida era. A menina conseguia se lembrar de tudo que havia comido naquele dia. As meninas desceram as escadas sorridentes e com um sentimento de nostalgia eufórico. Como o restaurante era próximo dali, ambas foram caminhando e conversando como se nenhum dia houvesse passado desde aquela primavera. Quando chegaram ao restaurante, logo se sentaram em uma mesa que estava na sob a calçada. O dia estava quente e ensolarado. Havia felicidade nas ruas. Rachel e Blair partilhavam do mesmo sentimento. Após alguns minutos analisando o cardápio, as duas garotas decidiram dividir uma salada de verão, com peixe ao molho de alcaparras e batatas cozidas. Elas já haviam feito isso em um outro dia ensolarado. Enquanto esperavam pelo prato as meninas conversavam sobre besteiras e Blair não conseguia controlar suas risadas.
- Eu adoro o jeito como você sorri. – Rachel a fitou.
- Você sempre me fará sorrir. – Blair sorriu.

Havia um clima entre os olhares entrelaçados de ambas, porém, este foi quebrado pelo garçom que começara a servir os pratos. Logo, as garotas começaram a se deliciar com a comida e com o vinho branco que Blair havia pedido. Blair ria de alguma besteira proferida por Rachel quando seu sorriso se esvaiu. Problemas estavam a caminho.
- Que bela cena. – disse Mischa ao se aproximar das suas garotas. A menina estava caminhando pela cidade a procura de um apartamento para morar, já que não queria mais ficar sobre o teto da avó.
- Mischa? – Rachel se assustou ao ouvir a voz da garota. – O que faz aqui?
- Não deveria ser eu a fazer essa pergunta, Rachel? – Mischa a fitava com decepção nos olhos. – E eu que estava me sentindo um monstro por todas as coisas que fui obrigada a dizer para você, enquanto você está aqui com sua ex-namorada, se é que não reataram, tomando vinho, comendo e rindo como se não houvesse amanhã.
- Não entenda de forma errada. É uma longa história. – Rachel mordia os lábios de nervosismo.
- Você tem razão. É uma longa história o que você tem com essa garota, e aparentemente, ela não vai parar de ser escrita não é mesmo? – Mischa tinha algumas lágrimas nos olhos.
- Mischa, se acalme. Não é nada do que você está pensando. Nós só saímos para almoçar, não há nada demais nisso. – Rachel fitou a menina.
Mischa fitou Rachel e seus olhos estavam furiosos. Porém, a menina percebeu algo que a deixou incrédula. Havia arranhões nos ombros de Rachel e esses iam até as suas costas. A menina se aproximou de Rachel que esperava uma resposta e deslizou a mão pelos arranhões. Rachel ficou pálida e gélida.
- Quer dizer que você já foi até para a cama com essa vadia? – Mischa tentava segurar as lágrimas, mas foi em vão.
Rachel ficou sem folego e não conseguia se quer abrir a boca para responder algo. Agora sim tudo estava de cabeça para baixo. Como Mischa poderia acreditar no seu amor se ela tinha marcas de outra garota no corpo. Blair até então apenas observava a cena, logo, essa se levantou e foi até Rachel verificar as marcas em seus ombros.
- Eu não fiz nada disso. – Blair fitou Misch pela primeira vez. – Essas marcas não são minhas, pode ficar contente. E sobre eu ser uma vadia, acho que estamos juntas nessa não é mesmo? Afinal, você também destruiu um pouco dela.
Mischa ouvira as palavras de Blair como se estivesse pisando em cacos de vidro. Ela estava certa, não sobre as marcas, mas sobre a sua atual condição. Ela e Blair haviam cometido o mesmo “erro”, independentemente das razões que as levaram a isso, elas eram iguais.
- Me perdoe, não quis ser grosseira. – disse Mischa fitando a garota de olhos azuis.
- Não me deve desculpas, e se quer saber, se essas marcas fossem minhas eu admitiria. – Blair agora fitava Rachel. – E quanto a você, vá para casa.
- Não posso ir para casa, eu preciso resolver toda essa situação. – Rachel bagunçava os cabelos. – Eu não quero perder ninguém, mas eu não sei o que fazer.
- Eu sei. – Blair fitava-a sem nenhuma expressão. – Por isso estou te mandando ir para casa. Aqui estão as chaves. – a menina entregou lhe as chaves e deslizou a mão pelo seu rosto. Mischa fitava a cena sem dizer nada.
- O que você vai fazer? – Rachel a fitava com os olhos lagrimejados.
- Vou cuidar de você. – sussurrou Blair no ouvido da menina. – Agora vá! Por favor. 

Rachel estava confusa e não conseguia entender o que se passava na cabeça de Blair. Por outro lado, ela estava em maus lençóis. A menina saiu a caminhar com a cabeça baixa. Estava envergonhada. Onde ela estava com a cabeça? Porque Mischa ficou tão irritada se ela havia terminado tudo? Rachel tentava entender o que realmente estava acontecendo. Não havia respostas.
- Porque você a mandou para casa? – perguntou Mischa fitando a menina.
- Rachel não saberia lidar com essa situação. – Blair respirou fundo. – Quer conversar? Talvez você devesse.
Mischa fitou a menina e não conseguia acreditar nas palavras que saiam da sua boca. Porém, ela precisava desabafar com alguém. Havia um turbilhão de pensamentos em sua mente e ela tinha vontade de chorar o tempo todo. Podia parecer surreal, mas havia certa sinceridade nos olhos de Blair, isso a deixou surpresa.
- Ok. – respondeu Mischa se sentando no lugar que antes era ocupado por Rachel.
- Diga me, porque terminou com Rachel? – Blair fitava a menina enquanto voltava a comer seu prato.
- É muito complexo. – Mischa suspirou e fitou a rua. – A Rachel é uma garota incrível, mas seria tão complicado desafiar toda a minha família para ficar com ela, e veja só, ela já esta dormindo com outra pessoa. Não sei se valeria apena causar uma guerra com a minha família por causa dela.
- Mas ela te ama. – disse Blair fitando seu prato e cortando um pedaço de peixe.
- Porque está dizendo isso? – Mischa a fitou incrédula.
- Porque é a verdade. – Blair agora fitava a menina. – Rachel é um tornado. Ela não consegue ser racional quando há sentimentos envolvidos. Ela tem um vazio muito grande dentro de si e busca completa-lo com pessoas, álcool e sexo. Porém, no final disso tudo ela precisa ter alguém para lhe estender a mão.
- Mas eu não posso aguentar isso. – Mischa revirava os olhos. – Se ela quer ter uma história comigo ela precisa mudar, ela precisa se controlar. E quando eu a vi desafiando minha avó na sala, eu percebi que ela sempre será assim. Impulsiva.
- Você tem razão sobre isso, é só que ela precisa de alguém. Alguém como você. – Blair a fitava, seus olhos demonstravam uma profundidade tremenda.
- Alguém como eu? O que está dizendo? Porque está fazendo isso? Você não a ama? – Mischa estava agitada.
- Sim, eu amo. Sempre amei e assim sempre será, mas eu não posso ficar com ela. Nunca pude. – Blair fitava a rua a sua frente.
- O que está dizendo? – Mischa a fitou.
- Rachel foi a única pessoa que me fez conseguir sorrir em meio a um turbilhão de dores. Ela cuidou de mim como ninguém havia feito, mesmo sem saber de nada, ela cometeu seus erros, mas nunca deixou de estar presente e me deixar segura. – Blair tinha lágrimas nos olhos.
- Se você realmente a ama e sente tudo isso por ela, porque desistiu de continuar a história de vocês? – Mischa olhava com compaixão para a menina.
- Nossa história jamais teria um final feliz. – uma lágrima escorreu do rosto da menina. – E Rachel, ela precisa de um final feliz. Ela precisa encontrar um amor saudável e não um amor suicida. 

- E porque não você? – Mischa a fitou.
- Quer mesmo sabe? – Blair secou as lágrimas e a fitou.
Mischa fez um sinal positivo com a cabeça e continuou a fitar a menina de cabelos castanhos. Blair tinha uma expressão calma e serena no rosto, mas seus olhos denunciavam plena tristeza. O que havia por tras dos sorrisos debochados e de toda a supremacia daquela garota. Mischa não conseguia entender tudo o que acontecera nos últimos dias, mas estar sentada a frente de Blair prestes a ouvir sobre seus mistérios, era a coisa mais bizarra que poderia acontecer. Porém, ela não se sentia incomodada, ela olhava para Blair como se quisesse entende-la e aliviar toda a sua angustia. Blair apenas sorria.
- Não serei melodramática ou poética, mas a verdade é que eu tenho leucemia desde os sete anos. Meus pais me levaram nos melhores médicos do mundo para me curar, mas foi em vão. Havia tanto sofrimento naquela casa que minha mãe cometeu suicídio na madrugada do meu aniversário de 12 anos e meu pai enlouqueceu logo em seguida. Ele abandonou os negócios, a sanidade e a mim. Meus avós não tinham condições de cuidar de mim, por isso me mandaram para o West Dynamik.
- E porque não contou isso a ninguém? – Mischa tentava controlar a fala, mas suas mãos tremiam.
- Não queria ter olhares de pena ou suicídios perto de mim. – Blair tinha o olhar frio e serio. – Eu queria que as pessoas vissem que eu era uma pessoa segura e que não precisava de ninguém. Afinal, eu não tinha ninguém. Até ela aparecer. Mesmo sem asas, ela era o meu anjo protetor.
- Rachel?
- Sim.
- Porque nunca contou a ela?
- Ela me amava demais. Estava louca por mim. Se eu dissesse tudo o que se passava ela não aguentaria. – seus olhos voltaram a ficar lagrimejados - Iria enlouquecer como o meu pai e quem sabe se matar como a minha mãe. Eu não podia ver a pessoa que eu mais amava no mundo se definhar.
- Por isso foi embora?
- Sim. Era mais fácil ter o seu ódio do que seu sangue em minhas mãos.
- Porque resolveu me contar sobre isso? – Mischa tentava manter a calma em sua voz, mas sua vontade era de deixar as lágrimas escorrerem.
- Porque eu quero que você cuide dela. – Blair a fitou. – Não estou pedindo para reatarem ou você criar a terceira guerra mundial com a sua família, estou apenas pedindo que me prometa que quando tudo isso acabar você estará por perto dela.
- Quer que eu faça uma promessa? – Mischa fitava os olhos da menina.
- Sim. Apenas prometa isso, e eu poderei dormir em paz.
- Eu prometo, Blair. – respondeu Mischa fitando-a e botando sua mão esquerda sob a dela. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Capítulo XIV


Rachel foi para a praça da cidade e se sentou em um banco próximo a uma fonte. Ela já havia estado ali uma vez com Blair. O lugar era aconchegante e belíssimo. Porém, as palavras ditas por Mischa martelavam em sua cabeça e a menina tentava entender o que era aquilo. Havia algo errado ela tinha certeza disso. Mas porque Mischa não podia enfrentar a sua família? Afinal, eles nunca se importaram com ela de verdade. Os pensamentos de Rachel estavam confusos e havia uma pequena fúria dentro de si. A garota não queria voltar para casa e mostrar para Blair que ela era uma fracassada. Portanto, Rachel se levantou e começou a percorrer as estreitas ruas gélidas da cidade. Havia poucas pessoas na rua, uma nevasca deveria estar por vir. Quando a garota avistou um bar adentrou-o.
No bar havia alguns homens jogando cartas e bilhar, além das garçonetes que os serviam e preparavam drinks. Rachel foi diretamente ao balcão e ficou a fitar o lugar. Era agradável. Havia pôsteres de diversas bandas indies e celebridades do cinema. Sem falar na lareira ao centro do bar que aquecia o lugar.
- O que vai querer? – perguntou uma voz feminina.
Rachel se virou e fitou a garota. A menina tinha cabelos castanhos levemente ondulados na altura dos ombros, um sorriso tentador e um olhar penetrante.
- Vou querer uma garrafa de vodka. – respondeu Rachel a fitando.
- Comemorando algo? – perguntou a menina sorrindo enquanto pegava a garrafa em uma prateleira junto com copo e gelo.
- Comemorando mais um fim de relacionamento. – Rachel deu um gole na bebida e deu um sorriso torto.
- Quer falar sobre isso? – a menina se debruçou no balcão e Rachel pode perceber que a regata branca que ela usava deixava seus seios mais volumosos e não pode deixar de olhar.
- Na verdade, não. Quero esquecer isso, nem que seja por alguns minutos. – o sorriso se esvaiu do rosto de Rachel.
- Como quiser, se precisar de algo é só me chamar! – a menina sorriu e se virou para atender um novo cliente.
Rachel ficou a se deliciar com o álcool que aquecia sua garganta, mas seu coração ainda estava gelado e em pedaços. A menina pensou em voltar na casa de Mischa e pedir novas respostas. Ela estaria disposta a ignorar tudo o que houvera. Porém, ela não conseguia esquecer os olhos azuis cheios de mentiras de Mischa. Logo, a garrafa estava pela metade e Rachel já não conseguia pensar em seu sofrimento. Os efeitos do álcool de fato são uma maravilha.
- Ei. – disse Rachel quando a garçonete passava pelo balcão.
- Em que posso ajudar? – perguntou a menina sorrindo. Seus olhos expressavam uma tentação inexplicável.
- Qual o seu nome? – Rachel a fitava nos olhos.
- Amanda.
- Quer ser minha essa noite, Amanda? – Rachel a fitou. Seus olhos verdes brilhavam e isso os deixava ainda mais sedutores.
- Desculpe-me, mas eu só saio daqui as 22:00. E eu não quero ser um arrependimento seu amanhã de manhã. – a menina fitava Rachel.
- Você jamais seria um arrependimento na minha vida. – Rachel mexia em uma mecha de cabelo da garota.
- Não diga besteiras! – as bochechas da menina coraram.
- Apenas uma noite. Prometo que não vai se arrepender. – Rachel deslizou seu polegar pelo rosto da menina.
- Você venceu. Mas só por essa noite! – a menina sorriu e deu um selinho em Rachel.
Rachel passou o resto da tarde flertando com Amanda e a garota retribuía com sorrisos e beijos rápidos. Para Rachel ela era tão angelical e demoníaca ao mesmo tempo isso lhe fazia arrepiar. Seus pensamentos estavam desnorteados, o álcool havia subido para o seu consciente e nada mais importava. A noite havia caído.
- Vamos? – perguntou Amanda enquanto saia de trás do balcão. A menina vestia um jeans vermelho, uma regata branca e uma jaqueta de couro.
- Para onde você quiser. – Rachel respondeu com um sorriso malicioso e pegou a menina pela mão.
- Eu gosto disso. – a menina sorria enquanto saiam do bar.
Rachel acenou para o primeiro táxi que passou e logo, entrou nele com Amanda. No banco traseiro as duas meninas tentavam se controlar, mas Rachel não hesitava em acariciar as coxas de Amanda. A garota, no entanto, apenas sorria maliciosamente. Rachel estava bêbada, mas isso não importava, não para Amanda.
- Chegamos! – disse a garota ao saírem do taxi.
As duas garotas estavam frente a um pequeno prédio, logo, entraram e foram em direção ao apartamento de Amanda. Quando a menina abriu a porta, Rachel percebeu que o lugar era muito simples e bagunçado, mas parecia um grande palco para uma noite fantástica.
- Quer beber algo? – perguntou Amanda enquanto trancava a porta.
- Talvez. – Rachel riu. - Olha... – pausou por alguns segundos antes de continuar. – Quer saber, deixa pra lá. – Rachel levou uma mão a nuca de Amanda e a puxou para um beijo.O beijo era erótico, elas se beijavam intensamente. Amanda percorria o corpo de Rachel com suas mãos e a arranhava deixando-lhe marcas.
Rachel sem perder tempo deitou a garota no sofá e jogou seu corpo sob a garota que não hesitou em beijar seu pescoço. Rachel se levantou e ficou a fitar a garota. Ela era incrivelmente bonita e seu corpo estava quente. Rachel estava perdendo o controle.
Amanda tirou sua blusa e sorriu para Rachel, que Rachel parecia hipnotizada, seus olhos estavam fixos em seu corpo. Amanda riu pela forma como Rachel a olhava, isso a fez sair do transe em que se encontrava. Rachel novamente se inclinou sobre o corpo da menina, Amanda, no entanto, mordia o queixo de Rachel e escorregava seus lábios até o pescoço da amante e suas mãos arranhavam-lhe as costas. Rachel desceu seu corpo e levou seus lábios até o colo da garota beijando por ali até onde seu decote permitia. Não demorou muito e Rachel tirou o sutiã de Amanda, os seios da menina eram fartos e tentadores. Rachel deslizou sua língua até um dos seios da menina e acariciou o outro com sua mão livre. Amanda tinha a respiração descompassada e apertava as coxas de Rachel.  Rachel a olhou e viu que ela mordia os lábios, então sorriu. O cheiro de álcool e sexo estava por todo canto. Havia um desejo carnal descompensado. Rachel desceu ainda mais o seu corpo e tirou o jeans da menina, em seguida levou sua mão até a calcinha preta que a menina vestia. Estava ensopada. Rachel sorriu maliciosamente e a fitou.
- Você é incrível. – Rachel sussurrou enquanto beijava-lhe o pescoço.
- Não diga nada, apenas me faça sua! – Amanda a puxou pela nuca e as duas se consumiram em um beijo intenso.
Rachel tinha um sorriso safado e logo, a penetrou com dois dedos. Amanda não conteve seus gemidos. Seu sexo estava quente, molhado e clamava por Rachel. Após iniciar um movimento de vai e vem, Rachel aumentou a velocidade. Amanda, no entanto, rebolava em seus dedos e clamava por mais. A menina estava delirando. E Rachel sorria maliciosamente. Após alguns minutos Rachel se encaixou entre as pernas da menina e seus lábios foram em direção ao sexo de Amanda. A menina percorreu todo o sexo da amante com a língua enquanto ouvia-a gritar pelo seu nome acompanhado de alguns palavrões. Rachel escorregava sua língua pelo clitóris da garota e ela lhe arranhava os ombros. Rachel a penetrou novamente com dois dedos e rapidamente Amanda chegou ao clímax. Rachel agora tinha o gosto de Amanda em seus lábios.
Ao terminar Rachel subiu seu corpo e lhe deu um beijo no rosto. Amanda ainda estava ofegante e fitou a menina com um sorriso bobo no rosto.
- Eu vou querer repetir isso por mais algumas vezes. – o sorriso agora era malicioso.
- Como quiser. – Rachel respondeu dando de ombros e sorrindo.
Em seguida deitou ao seu lado e sentiu Amanda envolvendo-a em seus braços. Não demorou muito e a menina adormecera. Rachel, no entanto, ficou a fitar o teto até que o sonho viesse.  

domingo, 2 de dezembro de 2012

Capítulo XIII


O dia amanheceu e Rachel acordou com os raios de sol que entravam pela janela batendo em seu rosto. Quando abriu os olhos percebeu que Blair estava deitada sobre seu braço. Rachel a fitou e viu que a menina dormia bem, para se levantar buscou fazer o menor número de movimentos para que Blair não despertasse. Logo, Rachel havia terminado seu banho e fitava-se no espelho.
- Boa sorte! – disse para o seu reflexo. – Garanto que vamos precisar.
A menina vestiu um jeans e uma camiseta de sua banda indie favorita. Rachel sabia que não era o melhor traje para ir visitar a doce e adorável avó de Mischa, mas ela não sabia o que vestir. Quando foi para a cozinha a menina resolveu preparar o café e algumas torradas. Enquanto pegava o pó de café no armário sob a pia esbarrou em alguns fracos e esses caíram. Os frascos eram coloridos e tinha muitas capsulas dentro. Rachel os pegou do chão e os guardou onde eles estavam. A menina não teve curiosidade de ler seus rótulos, supôs que eram apenas vitaminas.
Rachel serviu café em uma xícara para si mesma e foi até a janela da sala. O lugar tinha uma vista linda para os canais que cortavam a cidade. Rachel sentiu um sentimento nostálgico percorrer o seu corpo, ela tentou evitar, mas depois cedeu. A garota já não lutava contra suas lembranças, agora elas eram aceitas com carinho. Após terminar o café a menina foi até o quarto conferir se tudo estava bem com Blair e saiu.
O vento estava frio na rua o que fez Rachel se arrepender de não ter pegado um casaco. A menina decidiu ir caminhando até o endereço que Mischa havia lhe passado. Enquanto caminhava Rachel decidiu manter sua mente limpa e tranquila. Não havia o que ficar pensando, de agora em diante as coisas seriam como são, tudo de acordo com seus acontecimentos. Nada de planos, nada de expectativas. Rachel havia deixado a vida lhe surpreender.
- Deve ser aqui. – disse a si mesma quando parou diante uma casa estonteante. A casa tinha cercas neoclássicas e um jardim inglês imenso a sua frente.
Rachel respirou fundo e deu um sorriso irônico. As coisas não seriam nada fáceis. Logo, a menina encontrou o interfone e o tocou. Seu coração parecia saltar pela boca enquanto ele chamava.
- Mansão Paparatti, quem ostaria? – perguntou uma voz quase robótica.
- Senhorita Groffrean vim da Dinamarca, sou amiga da senhorita Mischa. – Rachel disse da forma mais formal que poderia imaginar.
Após alguns minutos o portão se abriu e Rachel começou a atravessar o imenso jardim, ela tinha que admitir que ele era realmente muito belo. Quando chegou a porta tocou a campainha e um mordomo logo a atendeu.
- Entre, por favor! – Rachel reconheceu a voz robótica do interfone, era ele.
Rachel entrou na sala que tinha uma decoração neoclássica com diversas obras de arte pelas paredes e esculturas em todos os cantos. O pé direito duplo dava um ar de grandeza e soberba ao ambiente. Porém, Rachel não se impressionou. Era como se estivesse na casa de sua avó ou tias avós.
- Olá querida. – disse uma voz fina e prepotente ao mesmo tempo.
- Olá. – respondeu Rachel se virando e fitando uma senhora com a pele branca feito a neve, cabelos grisalhos bem penteados e joias no pescoço. – Sou amiga de Mischa, queria falar com ela.
- Porque a pressa? – a mulher fitava Rachel, principalmente seus velhos tênis vermelhos.
- Não há pressa. Ela apenas pediu para que eu viesse visita-la quando pudesse. – Rachel tentou sorrir.
- Vocês estudavam no mesmo colégio? – perguntou a mulher enquanto se sentava no sofá e fazia um gesto convidativo para que Rachel fizesse o mesmo.
- Sim. – respondeu Rachel se sentando no sofá. – Dividíamos o mesmo quarto.
- Então era você? – a expressão no rosto da avó de Mischa agora era de desgosto e até mesmo nojo. – Como não percebi isso antes?
- Como assim? – Rachel ergueu uma das sobrancelhas.
- Eu vi o estado do “apartamento” em que vocês moravam e Mischa ainda me disse que você costuma não passar as noites em casa. Não quero minha neta com pessoas irresponsáveis como você. – a senhora fitava Rachel com seus profundos olhos azuis, iguais aos de Mischa.
- Ela disse isso? – Rachel perguntou. – Digo, isso não é verdade. Quero dizer, há muitas coisas que você desconhece sobre mim. – Rachel tentou manter o tom de voz calmo.
- E o que eu deveria saber sobre você, querida? – perguntou irônica.
- Eu sou namorada da sua neta. – Rachel a fitou com um sorriso malicioso.
Rachel não estava disposta a agradar aquela mulher. Ela queria apenas ter Mischa em seus braços e tira-la daquele lugar. Após proferir tais palavras à garota esperava por uma sequencia de gritos e ofensas, ela estava preparada para isso, afinal, não seria a primeira vez.
- Porque está me dizendo isso? – perguntou a senhora sem alterar o tom de voz.
- Porque é a verdade. – Rachel tinha o tom de voz elevado.
- Não acredito nisso, querida. – a senhora tinha um sorriso no rosto. – Minha neta é namorada de Matt Donaver, um príncipe. Ela jamais o trocaria por uma garota, ainda mais por você.
- Pois acredite, ela trocou. – Rachel a fitava com raiva nos olhos, porém, mantinha um sorriso irônico nos lábios.
- Não perca seu tempo com histórias tolas.
- Se chama de história tola o fato de sua neta estar apaixonada por mim e me deixar uma carta pedindo para salva-la de você, talvez isso seja uma história tola. – Rachel a fitou nos olhos.
- Cale-se agora! – pela primeira vez o tom de voz da mulher havia se elevado.
- Chame Mischa aqui se duvida tanto de mim. Chame-a e vai ouvir da boca dela o quanto ela está apaixonada por mim. – Rachel a desafiou.
Gasparina a fitou por alguns segundos. Ela não podia aceitar tamanha audácia e pior, não podia deixar que aquela garota difamasse sua neta ali na sua frente. Logo, a mulher pediu para Charles chamar Mischa até a sala, porém, fez restrições sobre o que se tratava.
- O que foi vovó? – perguntou Mischa descendo as escadas. A menina vestia um vestido verde oliva e um casaco na cor salmão. Estava linda. – Rachel? – gritou a menina eufórica ao ver a menina para no meio da sala.
- Assista ao espetáculo. – sussurrou Rachel para Gasparina.
- O que faz aqui? – perguntou Mischa disfarçando enquanto abraçava Rachel.
- Não precisa fingir querida, eu contei tudo a sua avó. – Rachel sorria.
- Tudo o que? – a menina a fitou com os olhos arregalados.
- Essa garota diz ser sua namorada. – respondeu a avó fitando-a.
Mischa teve os olhos petrificados ao ouvir isso. Suas mãos começar a tremer e suas bochechas nunca estiveram tão vermelhas. A menina fitou Rachel e essa tinha um sorriso glorioso no rosto, quando se virou para sua avó via um olhar cruel, frio e de reprovação.
- Diga-me algo sobre isso. – falou Gasparina fitando-a.
- Vovó, se acalme. – Mischa tinha a voz falha.
- Conte a verdade, Misch. – disse Rachel se aproximando e colocando a mão na cintura da menina.
- Eu não sei do que você está falando. – disse Mischa se afastando de Rachel.
- Como assim? – Rachel a fitou. A menina acreditou que seria algum disfarce para enganar a avó. – Não precisa mentir, minha pequena. Acredite em mim.
- Não fale com tamanha intimidade comigo. Nós apenas dividíamos o mesmo quarto naquele colégio horrível. Eu nunca quis nada com você. – Mischa fitava a menina. – Olhe para você, acha mesmo que eu ia querer algo sério com “a garota problema”?
- Misch, diga-me que isso é apenas uma encenação. – Rachel engoliu em seco. – Não precisamos mentir. Está na hora de você enfrentar a sua família.
- Não me peça para fazer isso. – havia tristeza nos olhos da menina enquanto fitava Rachel. – Eu nunca quis te magoar, mas as coisas são diferentes agora. Você não pode chegar aqui e falar todas essas coisas como se elas não provocassem nenhum efeito.
- Misch, não estou te entendendo. Porque me deixou aquele bilhete? Porque me fez todas aquelas promessas? O que essa mulher fez com você? – Rachel fitou a avó de Mischa com ódio nos olhos.
- Se acalme, Rachel. – Mischa respirou fundo enquanto olhava para a avó que permanecia em silêncio apenas fitando a cena. – Sei que você tinha outros planos, mas eu não posso.
- Não pode ou não quer? – Rachel fitou-a. – Eu devia ter imaginado que você jamais enfrentaria a sua família para ficar comigo. Aliás, quem sou eu além da garota problema não é mesmo? – Rachel tinha lágrimas nos olhos. – Eu sabia que essa visita não seria fácil, imaginei que teríamos sim uma discussão, mas em momento algum imaginei que essa discussão seria com você e que você não estaria ao meu lado.
- Rachel...- Mischa tentou falar mas sua voz falhou.
- Eu vou te dar uma última chance. Diga-me de uma vez por toda. Todas as palavras que você acabou de proferir foram verdadeiras? Sim ou não. Apenas isso. – Rachel a fitou no olhos.
- Responda Mischa. – falou Gasparina se intervindo pela primeira vez.
- Eu não posso ficar com você, Rachel. Eu percebi que tudo aquilo não se passava de um sonho, a realidade aqui fora é diferente. Sobre as palavras duras que eu disse, esqueça-as. Eu estou nervosa. Mas sobre nós, guarde apenas as suas boas lembranças porque eu não posso continuar. Eu sinto muito. – uma lágrima escorreu pelo rosto de Mischa.
- O que quer dizer com isso Mischa? – perguntou a avó ao perceber que a neta de fato tinha um sentimento por Rachel.
- Vovó, não torne isso mais difícil. – Mischa a fitou enquanto chorava. – Rachel é uma garota incrível, ela precisa saber que nem tudo foi mentira. Eu te amo Rachel. – Mischa a fitou e ignorou a presença da avó. – Mas eu não posso ficar com você.
- Se não podia ficar comigo porque me deixou aquela droga de bilhete? – Rachel tinha fúria nos olhos.
- Eu estava desesperada. – lágrimas escorriam pelo seu rosto. – Mas agora eu estou com os pés no chão e consigo enxergar a realidade. Eu não vou mais voltar para o colégio, meus pais estão voltando para cá, e quem sabe eles até possam se reconciliar.
- Eu não posso acreditar no que estou ouvindo. – Rachel a fitou. – Onde está aquela garota pela qual eu me apaixonei? Você me disse tantas coisas, fez tantos planos comigo e agora está jogando tudo fora por nada?
- Não estou jogando tudo fora por nada, Rachel. – a menina deslizou o polegar pelo rosto de Rachel. – É a minha família, eu não posso fazer isso. Não consigo fazer o que você fez, me perdoe por isso. Eu te amo, eu juro. Tudo parecia tão fácil enquanto estávamos no colégio e tínhamos apenas aquele nosso pequeno mundo, agora no mundo real tudo seria muito difícil.
- Eu não quero mais ouvir nada de você. – Rachel a fitou. – Eu realmente me enganei sobre você. Você quis ficar comigo porque era uma garota carente e traída pelo namorado, apenas isso. Você achava lindo ficar comigo desde que ninguém soubesse não é isso? Nós poderíamos continuar juntas se eu não tivesse falado tudo para a sua avó não é mesmo? Fingiríamos ser amigas e felizes não é?
- Eu não imaginava que você iria chegar aqui e contar tudo, não era para ser assim. – Mischa a fitou chorando.
- Você jamais enfrentaria a sua família para ficar comigo, essa é a verdade. – Rachel a fitou e proferiu suas ultimas palavras.
Logo, Rachel virou as costas e foi em direção a saída. Ouviu Gasparina e a própria Mischa proferir algumas palavras, mas ignorou. Ela iria embora daquele lugar, mas um pedaço de seu coração estava jogado naquele chão. 

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Capítulo XI


Rachel leu a carta pela quarta vez e finalmente conseguiu compreender o que era aquilo. Suas mãos tremiam e lágrimas caiam de seus olhos. Sua princesa havia sido raptada. Rachel amassou a carta e a guardou no bolso do casaco. A menina estava desnorteada. Seu mundo estava caindo por terra, à solidão seria sua nova amiga. Seu coração se sentiu gélido e palpitava a cada suspiro. A menina percorreu todo o apartamento com os olhos e em cada canto ela via a imagem de Mischa sorrindo. Rachel fechou os olhos, as lágrimas escorriam de forma menos dolorosa assim, porém, o cheiro de Mischa estava impregnado no lugar. Logo, o sol havia nascido e Rachel fitava o horizonte. Estava vazio. Não havia para ir, para onde correr. Tudo estava perdido. Mischa havia ido embora e não voltaria, visto que jamais seria capaz de enfrentar a sua família. Aparentemente o jogo havia terminado. Os olhos de Rachel estavam em pleno desespero. A menina saiu do quarto e desceu as escadas rapidamente, atravessou o saguão como um cometa e logo estava em um corredor vazio. O colégio estava praticamente deserto, já que eram 7 da manhã. Rachel seguiu até o final do corredor e bateu duas vezes na
- Rachel? Veio me ajudar com as malas? – perguntou Blair enquanto bocejava e fitava a menina.
- Eu preciso de você. – Rachel tinha lágrimas escorrendo pelo rosto. – Você é a única coisa que me resta agora.
Blair a fitou surpresa, não esperava ouvir aquilo. A menina respirou fundo e fitou Rachel. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, como nos velhos tempos. O sentimento de nostalgia invadiu Blair e essa ficou com os olhos lagrimejados ao ver Rachel tão frágil.
- Entre, vamos conversar! – disse Mischa após um longo suspiro.
Rachel entrou no apartamento da menina pela primeira vez. Não era diferente do que ela imaginava, o que a surpreendeu foi o fato de Blair ainda ter foto das duas em porta-retratos. A menina ficou a fitar as fotos e sentiu uma confusão dentro de si.  
- Diga-me, Rachel. O que há desta vez? – Blair sentou ao lado de Rachel no sofá e colocou a mão sob a coxa da menina.
- Mischa foi embora. – Rachel respondeu sem fita-la.
- Vocês terminaram? – perguntou Blair surpresa e com o cenho franzido.
- Não! – Rachel passou a mão pelos cabelos e fitou a ex-namorada. – Aparentemente, a avó dela é uma fascista e a levou para a Suíça essa manhã.
- Fique calma, eu estou com você. – Blair fitou os olhos verdes da menina.
- Ela recebeu uma carta da avó e nós íamos fugir, mas ela apareceu aqui pela manhã enquanto eu esperava a Mischa no bosque, quando fui procura-la encontrei apenas um bilhete. – Rachel fitou os olhos de Blair. – Apenas um bilhete.
Blair fitou a menina e mordeu os lábios. Nada doía mais do que ver Rachel tão frágil e aos pedaços. A garota suportava qualquer coisa, exceto ver Rachel chorar, esse era o seu calcanhar de Aquiles. Porém, ninguém jamais poderia saber disso.
- Você disse Suíça? – perguntou Blair se levantando do sofá.
- Sim. – Rachel sussurrou.
Blair se virou e foi até o quarto. Rachel ficou a fita-la de longe. Não demorou muito e a menina voltou para a sala. Blair mantinha uma expressão seria no rosto, mas podia se ver as lágrimas brotarem em seus olhos.
- Tome. Vá encontrar sua garota. – disse Blair entregando suas passagens de avião com destino à Suíça. – Estão marcadas para hoje à noite. Aceite como um presente de alguém que quer ver você feliz, independente de qualquer coisa. – Blair tentou sorrir, mas foi em vão. 
Rachel não conseguiu entender o que se passava diante dos seus olhos. A menina secou as lágrimas e fitou a menina que tinha os mais profundos olhos azuis. Blair mantinha uma expressão séria, mas seus lábios tremiam.
- Porque está fazendo isso? – perguntou Rachel enquanto fitava a menina com a passagem na mão.
- Porque eu não quero te ver em pedaços outra vez. Eu te salvei do abismo uma vez, e estou disposta a salvar quantas vezes forem necessárias, entenda isso. – Blair deixou uma lágrima escapar de seus olhos.
- Não consigo entender. – Rachel revirou os olhos. – Você era a última pessoa que eu pensei que faria isso por mim.
- Então porque bateu na minha porta aos prantos? – Blair a fitou.
Rachel sentiu um arrepio percorrer seu corpo ao sentir o olhar da menina. Ela tinha razão. Rachel havia procurando-a, mas não entendia por que. Seu coração apenas a direcionou para ela.
- Como você disse “eu sou a única coisa que você tem” – continuou Blair. – E eu sempre estarei aqui assistindo você ser feliz, leãozinho. Isso é o suficiente para mim. – Blair fitou os olhos da menina, suas mãos tremiam junto com seus lábios e essa queria que tudo aquilo terminasse logo. – Acho melhor você ir arrumar suas coisas, o voo sai as 14:00.
- Acho que eu nunca irei conseguir entender os seus mistérios. – Rachel deslizou o polegar pelo rosto da menina secando lhe uma lágrima.
- Não quero que entenda. Agora, vá atrás da sua garota e seja feliz. – Blair se direcionou até a porta e deixou o caminho livre para Rachel, literalmente.
- Eu não vou me esquecer disso. – sussurrou Rachel enquanto beijava-lhe o rosto.
A garota saiu e logo estava descendo as escadas com a passagem na mão. Blair ficou a fitar a menina, lágrimas escorriam pelos seus olhos. Blair sabia que o sentimento que Rachel tinha por Mischa era verdadeiro. Isso doía. Muito. Talvez Rachel realmente houvesse superando-a. Porém, um sorriso brotou em seus lábios. A menina entrou no apartamento e pegou o telefone. Depois de alguns minutos no telefone, Blair sorria estupidamente. Rachel foi em direção ao seu apartamento, precisava tomar um banho e se vestir. Ela iria salvar a sua garota, já que Blair acabara de salva-la. O abismo não estava mais aos pés de Rachel, e ela conseguia sorrir. Ela estava indo buscar Mischa, mas em seus pensamentos ela conseguia ver apenas Blair. Seus olhos ficaram lagrimejados e um sorriso bobo surgiu em seu rosto. Blair ainda era a mesma pessoa doce, amorosa, carinhosa, amiga e compreensiva que ela havia conhecido há anos atrás. Um sentimento de nostalgia invadiu a menina, seu coração já não estava acelerado e suas mãos haviam parado de tremer.
Rachel entrou no apartamento e começou a juntar algumas coisas que havia deixado para trás quando arrumou as malas com Mischa. Enquanto mexia no armário encontrou uma caixa de papel e mordeu os lábios. Logo, Rachel havia abrido a caixa. Todas as suas lembranças com Blair estavam ali. Fotos, a camiseta que Blair usava no dia em que se conheceram, um frasco com seu perfume, cartas e bilhetes escritos pela garota e uma pequena caixa de veludo. Rachel sabia do que se tratava. Era um anel de ouro com uma pequena pedra de diamante que ela havia comprado para dar a Blair no aniversário de namoro de ambas, mas esse dia não chegou. Seu coração palpitou ao abrir a caixa e ver o anel. Flashs de lembranças percorreram sua mente, portanto, a menina tratou de fechar a pequena caixa e guarda-la onde estava. Em seguida pegou a caixa com todas as outras coisas e a botou dentro de sua mochila.
Quando o relógio marcava 12:40 Rachel ouviu batidas na porta. Acho estranho, porém foi em direção a ela e abriu-a. Seus olhos se arregalaram e um sorriso desconcertado dominou sua expressão. Blair estava parada a sua frente com 3 malas e um sorriso provocante no rosto.
- Vou com você. – a menina disse sorrindo.
- Como assim? – Rachel estava confusa, porém, sorria.
- Meu tio conhece o dono da companhia área em que iremos viajar e foi fácil arrumar uma passagem. – a menina fitou Rachel. – Vai ter alguém para segurar a sua mão quando o avião for pousar. – Blair sorria docilmente ao comentar o medo de Rachel enquanto o avião pousava. Em todas as viagens que ambas haviam feito juntas, a menina sempre apertava a mão da ex-namorada e Blair a confortava com um abraço. O flashback invadiu a mente de ambas.
- Além do mais – continuou Blair depois do flashback – eu tenho um apartamento em Berna, você pode ficar lá comigo se quiser. – Blair revirou os olhos e sorriu.
Rachel estava desconcertada, mas não podia negar que estava feliz. Há algumas horas sua vida estava repleta de escuridão e agora, era como se um anjo tivesse aparecido e lhe segurado pela mão. Talvez anjos realmente existissem.
- Sendo assim, vamos para o aeroporto! – disse Rachel pegando as chaves do seu carro e a mochila que estava no sofá. – Deixe que eu te ajude com suas malas, é o mínimo que eu posso fazer. – Rachel sorria enquanto fechava a porta e pegava duas malas de Blair.
- Não pense que toda essa minha boa ação não vai ter um preço a ser pago. – Blair sorriu maliciosa. – As formas de pagamento podem ser escravidão e até mesmo serviços sexuais. – a menina riu.
- Seu preço é pagável. – Rachel riu e revirou os olhos. Estava feliz.
Logo, as duas meninas chegaram ao carro de Rachel e seguiram viagem até o aeroporto. No caminho, ambas conversavam sobre a Suíça e tudo o que haviam feito lá. Riam de coisas banais e trocavam olhares acompanhados de sorrisos quando o silêncio entrava em cena. Quando chegaram ao aeroporto faltavam 30 minutos para o embarque, portanto, as meninas foram almoçar.
- Vamos ao restaurante japonês. – disse Blair sorrindo.
- Não sei você, mas desde que inventaram o fogo eu parei de comer comida crua. – Rachel olhou a com um sorriso irônico no rosto.
- Não seja idiota. – Blair riu e puxou a garota pela mão. Sua mão estava quente e aquecia a mão sempre gélida de Rachel.
As duas foram para o restaurante e Rachel reclamava, enquanto Blair se deliciava com sushi. A garota ria do modo em que Rachel torcia o nariz enquanto comia e se sujava com o molho.
- Não sei por que estou fazendo isso. – resmungou Rachel.
- Porque você me deve. – Blair riu. – E pare de reclamar, eu sempre disse que um dia ia fazer você comer sushi comigo.
Rachel se lembrou de todas as vezes em que Blair insistia com ela para apreciar a culinária japonesa e ela sempre negava. As coisas haviam mudado agora, talvez Blair tivesse se tornado mais persuasiva. Ou talvez, as coisas estivessem realmente mudando de eixo. Quando terminaram de almoçar foram direto para a sala de embarque e logo, estavam no avião. Seriam duas horas de viagem até a Suíça. Durante o voo Rachel adormeceu e Mischa ficou a olhar a menina, um sorriso bobo invadia seu rosto e essa acariciava a mão de Rachel, já que logo o avião estaria em terra firme. Quando o piloto do avião avisou que realizaria o pouso dentro de minutos Rachel despertou e seus olhos estavam aflitos.
- Se acalme, eu estou aqui. – disse Blair fitando os olhos da menina e segurando sua mão.
- Eu estou bem, fique tranquila. – mentiu Rachel.
- Eu sei que não está com medo, mas eu estou. Então pode segurar a minha mão? – Blair mentiu, já que sabia que a garota jamais admitiria tal situação.
- Claro! – Rachel sorriu nervosa e logo apertava a mão de Blair que sorria.
Logo, o avião já havia pousado e Rachel voltara a ficar calma. As garotas desembarcaram, pegaram suas malas e foram em direção ao saguão do aeroporto. Rachel acenou para um taxi e logo, as meninas estavam a caminho do apartamento de Blair. No caminho Blair falava e mostrava os melhores lugares da cidade para Rachel.  A cidade era estupidamente bonita e Rachel se sentia feliz de estar ali outra vez, apesar das circunstancias.
- É aqui! – disse Blair ao taxista quando passavam por um prédio neoclássico de quatro andares e de cor mostarda.
As garotas desceram do taxi e botaram as malas no chão. Quando Rachel fitou o prédio, olhou para Blair e um sorriso bobo dominava seu rosto. A menina não podia acreditar no que via. Blair havia comprado o apartamento em que ambas ficaram quando viajaram para comemorarem um ano de namoro. Rachel não conseguia entender o porquê de a garota fazer isso, já que ela havia abandonado-a. Nada fazia sentido.
- Está surpresa? – perguntou Blair enquanto entrava no prédio e seguiam para o segundo andar.
- Você está brincando não? – Rachel a fitou. – Porque fez isso? Porque você veio morar aqui?
- Porque eu queria me sentir perto de você de alguma forma. – a menina respondeu enquanto abria a porta e adentrava o apartamento.
Rachel sentiu um sentimento intenso lhe invadir. Ela se lembrava de cada minuto dentro daquele apartamento. Seus olhos estavam em transe e conseguiam ver apenas as lembranças, doces lembranças de quando esteve ali com Blair. O destino estava brincando.

- Você conhece o lugar, portanto, se acomode. – disse Blair enquanto tirava a jaqueta e deixava sob o sofá. A menina vestia uma regata laranja e um jeans preto colado ao corpo.
- Está certo. –disse Rachel saindo de seu transe e indo em direção ao pequeno quarto no final do corredor. Era incrédulo como tudo estava exatamente como ela vira da ultima vez. Blair não havia mudado nada, exceto por pequenos elementos de decoração. Rachel estava se perdendo dentro das suas lembranças, e fugindo do real motivo pelo qual ela estava ali. Portanto, tratou de voltar à sala. A menina se jogou no sofá vazio e ficou a fitar o espaço.
 - E então, quando vai procurar a garota? – Blair a fitou enquanto tirava os sapatos de salto e os deixava no chão.
- Logo. – respondeu Rachel ao se lembrar de que teria um grande problema pela frente. – Só preciso descobrir onde fica a casa da avó dela.
- Deixe me ver o endereço. – pediu Blair se levantando e indo em direção à menina.
- Está aqui. – entrou o bilhete amassado que estava em seu bolso.
- É a dois quarteirões daqui. – disse Blair desnorteada ao ler o endereço pela terceira vez.
- Isso facilita as coisas, eu acho. – Rachel fitou a menina, sua respiração começava a ficar descompassada.
- Sim. – respondeu Blair deixando o bilhete sob a mesa.
O silêncio dominou a sala por alguns minutos. Rachel havia deitado no sofá e ficava fitando o teto, enquanto Blair lia um livro francês que estava na mesa de centro. O vento lá fora urrava, uma noite fria estava por vir e seria acompanhada por uma tempestade.
- Porque ficou tão quieta? – perguntou Rachel quebrando o silêncio.
- Estou lendo. – respondeu a menina rispidamente.
- Acho que irei ver a Mischa amanhã, o clima não me parece bom hoje. – disse a menina se sentando e fitando a janela.
- Faça o que achar melhor. – respondeu Blair sem tirar os olhos do livro.
- O que está havendo, Blair? – perguntou Rachel se levantando e ficando frente a garota.
- Você não vai querer começar essa conversa. – Blair fechou o livro e se levantou – Além disso, resolva o quanto antes essa sua situação. Não quero você aqui para aumentar a minha nostalgia. 

Rachel mordeu os lábios e apenas suspirou. Ela sabia que sua presença de alguma forma incomodava Blair. A menina, portanto, foi para o pequeno quarto que ficava no final do corredor. Blair continuou lendo na sala, não estava animada para desfazer a mala ou fazer qualquer coisa que fosse. A menina ficou deitada no sofá fitando o livro, mas seus pensamentos estavam em outro lugar. Não demorou muito e logo a noite chegou. Rachel acabara de sair do banho e tinha os cabelos molhados quando chegou à sala.
- Ainda está ai? – perguntou a menina secando os cabelos e se sentando no sofá frente a ex-namorada.
-Sim. Estou cansada. – respondeu Blair meio sonolenta. – Acho que vou para o quarto. – Blair se levantou e logo uma tonteira a abateu e essa quase desmaiou.
- O que houve? – perguntou Rachel socorrendo a menina em seus braços.
- Não é nada. Estou apenas cansada. – Blair tentou sorrir.
- Eu vou te levar para o quarto. – Rachel abraçou a menina pela cintura e a direcionou até a cama.
- Obrigada. – respondeu Blair em um sussurro enquanto se deitava.
- Ainda estou te devendo! – Rachel sorria enquanto cobria a garota com um cobertor, visto que a noite seria fria.
- Não seja boba. – Blair deslizou a mão pelo rosto pálido e ainda assustado de Rachel.
- Você quer alguma coisa? – perguntou Rachel mordendo os lábios.
- Eu estou bem. Vá descansar, amanhã você terá um grande dia. – a menina tinha um sorriso torto nos lábios.
- Tem certeza? – a menina passou a mão pelos cabelos de Blair. – De qualquer forma, estarei aqui do lado se precisar é só me gritar. – a menina sorriu.
Blair nada disse apenas sorriu e se ajeitou no cobertor. Rachel ficou parada no vão da porta fitando a menina, ao perceber que ela já havia adormecido foi para o seu quarto. Quando Blair ouviu o bater da porta se sentou na cama e pegou algumas capsulas de remédios na primeira gaveta do criado mudo. Sua respiração estava um pouco descompassada e suas mãos tremiam.
Quando os relógios marcavam 2:34 da manhã Rachel acordou ao ouvir Blair tossir, prontamente, a menina se levantou e foi até a garota ver o que se passava.
- Está tudo bem? – perguntou Rachel entrando no quarto e ascendendo a luz.
- Sim. – a menina respirou profundamente. – Não se preocupe, acho que peguei um resfriado durante a viagem. – Blair tentou sorrir, seu sorriso era forçado, porém, encantador.
- Não quer que eu passe a noite com você? – perguntou Rachel enquanto se sentava na cama.
- Isso não seria conveniente. – Blair riu.
- Digo, no bom sentido. – pela primeira vez em muito tempo Rachel tinha as bochechas coradas.
- Não há um sentido ruim de maneira alguma nisso. – Blair sorria docemente. – Mas não precisa se preocupar, eu já disse. Amanhã é um grande dia para você. – o sorriso se esvaiu de seu rosto.
- Eu faço questão. – Rachel fitou a menina nos olhos e em seguida tirou os tênis e se deitou ao lado de Blair. – Posso pegar um pedaço do cobertor? – perguntou a menina enquanto se ajeitava na cama.
- Pegue o que quiser. – Blair a fitou e sorriu.
- Obrigado, eu acho. – respondeu Rachel corando as bochechas.
Rachel deitou-se e ficou a fitar o teto. Todas as vezes que Blair tossia a menina prontamente se sentava na cama e perguntava-lhe se tudo estava bem. Blair apenas sorria e voltava a dormir. A noite estava fria e Rachel não conseguia dormir. Seus pensamentos estavam desvencilhados. Havia apenas um dia que ela não via Mischa, mas era como se tivessem passado anos e talvez até décadas. A manhã, a tarde e a noite que Rachel passara com Blair eram como anos perdidos que não tiveram fim. Aquele quarto havia sido cenário para a comemoração do primeiro ano de namoro entre Blair e Rachel. Por todas as paredes Rachel via cenas e flashs de tudo o que havia acontecido. Um sorriso brotou em seus lábios e uma lágrima escorreu sutilmente. O passado havia se tornado presente e o futuro havia se perdido em meio ao passado. Mas logo, o dia amanheceria e tudo seria traçado novamente. 

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Capítulo X


O dia amanheceu e Rachel ainda não havia acordado. Os resquícios da noite passada ainda estavam turbulentos dentro de si. O cheiro de álcool havia diminuído devido a evaporação, porém, o cheiro de cigarro exalava por todo o apartamento. Mischa logo acordou e percebeu que a menina estava em um sono profundo. Mischa sorriu, deu um beijo na bochecha da menina e em seguida, lhe cobriu com o lençol que estava no chão. A menina também abriu as janelas para que o cheiro de cigarro desaparecesse. Misch foi em direção a cozinha e colocou a água do café para ferver enquanto tomava banho.Ao fim desse, a menina foi para cozinha e preparou o café, deixando o bule e uma xícara sob o balcão, pois sabia que Rachel iria precisar disto quando acordasse. Em seguida, a menina vestiu seu cardigan verde-oliva sobre seu vestido grafite. Ao abrir a porta se deparou com a correspondência matinal. Pego-as e supôs que todas eram para Rachel, já que o apartamento a pertencia. Porém, por alguma razão resolveu conferir todos os destinatários. A maioria era cartas de propaganda e assinaturas de revistas. Porém, havia uma endereçada para Misch.  No remetente estava escrito um nome bem conhecido pela garota: Gasparina Papparatti, era a sua avó. Mischa ficou muito feliz ao perceber que se tratava de alguém da sua família, a menina ficou eufórica. Logo, deixou as outras correspondências no balcão e saiu com a sua carta na mão. Quando chegou ao saguão, se sentou em uma das poltronas e pôs-se a ler.

Querida Mischa,
Como tem passado nos últimos tempos? Espero que bem. Falei com seu pai a algum tempo e ele me comunicou que você estava estudando em um colégio interno na Dinamarca. Não aprovei tal atitude. Portanto, lhe escrevo brevemente para lhe comunicar que logo você será trazida para a Itália e irá morar comigo. Visto que os papeis do divorcio já começaram a correr. Você deverá receber essa carta dois dias antes da sua viagem, tempo suficiente para você arrumar as suas coisas. Não faça objeções, eu sei o que é melhor para você. Sua passagem e passaporte se encontram na secretária do colégio, trate de pega-los logo. Estou te esperando.
Com amor, vovó.

Os olhos de Mischa estavam vidrados, a menina lia a carta pela terceira vez. Não conseguia acreditar no que os seus olhos estavam vendo. Como ela poderia viajar para a Itália em dois dias? Porque isso estava acontecendo? Como ela iria deixar Rachel para trás? Ao pensar nisso, o coração da menina ficou gelado. A menina mordeu os lábios e fechou os olhos, não sabia como iria lidar com isso. E ela também conhecia sua avó, sabia que se não seguisse as regras ela iria parar na Suíça por mau comportamento. A raiva começou a correr por suas veias o que fez com que a garotava amassasse a carta. Suas mãos tremiam e sua cabeça começava a latejar.  Não demorou muito para que as lágrimas brotassem em seus olhos. A menina então desolada foi em direção ao lado e quando chegou se sentou a beira desse e pôs-se a chorar.
Ela não tinha nada, além de Rachel. E agora o destino estava lhe fazendo deixar tudo para trás. Não era justo, porém, ela não poderia mudar a doce imposição de sua avó. Mischa suspirou fundo e se deitou na relva. Queria dormir, queria esquecer, queria morrer. Ela sabia que estava de passaporte marcado para o inferno. Enquanto isso Rachel acordava no apartamento. Sua cabeça girava e seus olhos nunca estiveram tão pesados nos últimos tempos. Havia sido uma noite e tanto. Logo, a menina se levantou e foi para o chuveiro, chamou por Mischa, mas deduziu que a menina já havia saído, visto que se passava das 16:00. Após o banho, Rachel foi para a cozinha e viu que Mischa havia deixado café, mas que esse já havia esfriado a tempo. A menina procurou por algum bilhete e não encontrou Mischa não deveria demorar, afinal, ela sempre deixava um bilhete quando iria demorar. A menina viu as correspondências no balcão e se jogou no sofá para lê-las, não havia nada de importante. Rachel resolveu fazer um sanduiche e assistir um filme de ação que estava passando na televisão. Quando o relógio marcava 18:34, Rachel ficou preocupada, havia se passado muito tempo e Mischa não voltará. Rachel olhou pela janela e não viu movimento nenhum. Portanto, tratou de vestir seu casaco e descer as escadas em busca de Mischa.
- Senhorita Rachel! Boa noite. Tenho uma encomenda para a senhorita Mischa, pode fazer a gentileza de entregá-la? – perguntou a coordenadora da secretária.
- Claro. – respondeu Rachel cordialmente, e em seguida assinou a lista de entregas.
Após a coordenadora virar as costas e seguir seu caminho, Rachel passou os olhos pelo envelope, havia uma caligrafia bonita e estava escrito apenas o nome de Mischa. Rachel cogitou que seria algum presente de sua família. Portanto, guardou o envelope no casaco, e continuou a sua procura por Misch.
-Hey Diana, viu a Misch por ai? – perguntou Rachel se aproximando da garota no refeitório.
- Não, Rachel. Eu não a vi hoje. –respondeu enquanto dava um gole em seu café.
- Ah, obrigado. – Rachel deu um sorriso torto e continuou seu caminho.
Após trinta minutos Rachel não havia encontrado a garota e nem se quer alguém que tenha visto-a. A menina já estava preocupada, quando avistou alguém a beira do lago. Era Mischa, só podia ser. Mischa ainda estava dormindo quando Rachel chegou o que fez com que a menina sorrisse ao ver o quão linda a garota dos cabelos cor de ouro dormia.
- Hey, pequena! Vamos para casa! – sussurrou Rachel enquanto depositava um beijo nos lábios já gélidos da menina.
Mischa se espreguiçou e logo abriu os olhos. Sorriu ao perceber que Rachel estava ali. Não disse nenhuma palavra, apenas puxou Rachel para um abraço, que foi correspondido calorosamente. Após alguns minutos trocando beijos e abraços, Rachel se levantou e puxou Mischa pela mão.
- Vamos para casa! – Rachel sorriu.
Ao ouvir essas palavras Mischa sentiu um ardo arrepio percorrer o seu corpo. Como ela iria explicar tudo a Rachel? Como ela, Mischa, iria sobreviver longe de todo o carinho e amor que Rachel lhe dava? Todas as palavras que a menina havia dito na noite anterior eram verdadeiras, não era apenas o álcool, Mischa tinha certeza disso e Rachel também.
Quando chegaram ao apartamento Rachel foi para a sofá e se jogou. Mischa ficou parada próximo ao balcão, seus olhos estavam tristes.
- O que foi? – perguntou Rachel erguendo a sobrancelha.
- Tenho algo para te contar. – a menina suspirou fundo e fitou o chão.
- Fala, o que houve? – Rachel se levantou prontamente e se pôs ao lado da menina.
- Eu irei embora amanhã. – a voz lhe falhou.
- Porque? O que houve? – Rachel mordia os lábios e sua respiração ficou ofegante. – Eu sei que te deve desculpas por muitas coisas, mas por favor, não vá embora! Eu preciso de você, Misch. – a menina tinha os olhos lagrimejados quando deslizou a mão pelo rosto da menina.
- Meu amor, não é por causa de você! Nem cogite pensar nisso. – uma lágrima escorreu pelo rosto da menina. – Eu jamais iria me afastar de você.
- Então o que houve? – perguntou Rachel secando as lágrimas da garota.
- Eu recebi uma carta da minha avó e ela me obrigou a ir para Itália, ficar com ela. – a voz da garota era falhada por soluços e lágrimas.
- Mas você não pode ir se não quiser!- disse Rachel com os olhos arregalados.
- As coisas não funcionam assim com a minha família. Eu sempre tive que seguir as regras, ser a garota da corte. Se eu me revoltar, com certeza a punição será maior. Não há como se esquivar. – a menina mordeu os lábios.
- Não! Você não tem que seguir todas as regras. Tem que seguir o seu coração, seus desejos e sonhos. – Rachel respirou fundo. – Quem ela pensa que é? Nunca se importou com você e agora se vê no direito de te controlar? Com todo respeito, mas você não deve obedece-la – Rachel andava de um lado para o outro.
- Eu não sei o que fazer.  A minha vida toda foi assim. Acha que eu queria vir para cá? Eu deixei amigos para trás, é sempre assim. Sempre tenho que abandonar as coisas que gosto. – afirmou Misch com os olhos lagrimejados.
- E vai fazer o mesmo comigo? – Rachel fitou os olhos da menina.
- Não, Rachel! Não! Você acha que estou triste por quê? É claro que é por você, Rachel! – a menina estava aos prantos.
- Então não se vá. Fique comigo. – pediu Rachel segurando as mãos da garota.
- Não posso. Se eu não for agora,minha avó virá aqui me buscar de qualquer maneira. – Mischa acariciou o rosto da menina.
- Fuja comigo! É isso! – disse Rachel sorrindo eufórica.
- Fugir? Como Rachel? –perguntou a menina.
- Eu tenho dinheiro suficiente para a gente ir para algum lugar e viver bem. Aliás, eu posso trabalhar como cozinheira ou em alguma galeria de arte, tenho capacitação para isso. – Rachel olhava os olhos da menina que voltará a brilhar.
- Oh, meu deus! Só você para fazer sorrir em meio a esse turbilhão de coisas. –Mischa sorria.
- Podemos fugir agora mesmo! Basta juntarmos nossas coisas! Fugiremos amanhã pela manhã! –Rachel nunca esteve tão eufórica.
Mischa e a garota começaram a juntar suas coisas e coloca-las em mochilas e enquanto isso, trocavam beijos e abraços. A euforia havia voltado a iluminar o rosto das garotas. Rachel já havia explicado tudo para Mischa. Ela sairia as 4:00 da manhã arrumaria todas as coisas em seu carro, e as 6:00 da manhã as duas sairiam pela estrada aos fundos do colégio. De lá, era apenas marcar um ponto aleatório no continente europeu e esse se tornaria o destino das meninas.
A noite chegou e após controlar o entusiasmo as duas garotas adormeceram no sofá. Quando o despertador tocou, Rachel tratou de se levantar e levar todas as coisas para o seu carro. Mischa se revirou, mas Rachel pediu para que essa continuasse a dormir. Enquanto descia as escadas, Rachel tentou ser o mais silenciosa possível. Quando chegou aos jardins do colégio, ligou sua lanterna e foi em direção à garagem. Como já havia atingido a maior idade, podia dirigir por toda a Europa. Ao chegar ao carro a menina arrumou todas as malas no porta malas e saiu com o carro para abastecer no posto de gasolina que ficava a trinta quilômetros dali.
Quando o relógico marcava 5:30 Mischa acordou com batidas na porta. Estranhou, visto que Rachel não havia dito que voltaria ao apartamento. Porém, Mischa se levantou e foi prontamente atender a porta.
- Surpresa! – disse uma voz muito familiar e nada doce. – Era a avó de Mischa. Gasparinna conhecia o comportamento da neta e sabia que essa não iria seguir as suas ordens, portanto, tratou de ela mesma resolver a situação.
- Vovó? O que faz aqui? – perguntou Mischa com os olhos arregalados e as mãos tremulas.
- Vim buscar você! Afinal, já faz duas semanas que estou te esperando. Devia ter me avisado que iria se atrasar. – disse a avó
- Vovó, eu só recebi a sua carta ontem. Deve ter acontecido algum imprevisto. – Mischa mordia os lábios e olhava a janela. Ela precisava avisar Rachel sobre o que estava acontecendo. – Mas porque veio tão cedo? – perguntou a menina tentando ganhar tempo.
- O meu voo atrasou, era para eu ter chegado ontem a noite, mas devido a uma conexão na Escócia, e cheguei agora pela madrugada. – a mulher com colar e brinco de perolas se sentou no sofá bagunçado.  – Mas alguém mora aqui com você? –perguntou percorrendo os olhos por todo o lugar.
- Eu divido o quarto com uma amiga. – respondeu Mischa fitando a porta e com um sorriso torto nos lábios.
-E onde ela está? – perguntou Gasparinna.
- Não dormiu aqui essa noite. –mentiu Mischa.
-Está vendo minha filha? O tipo de lugar para onde os seus mais te mandaram? Eu entendo que aqui é um dos melhores colégios da Europa, mas olha o tipo de gente com quem você é obrigada a conviver. – a mulher tinha um olhar de reprovação.
- Não fale assim dela. Você nem ao menos a conhece. – Mischa não acreditava no que havia dito, estava enfrentando sua avó.
- O que é isso Mischa? Está defendendo essa garota? – a avó revirou os olhos e a fitou.
- Estou apenas dizendo que ela é uma pessoa legal. – Mischa mordeu os lábios e fitou o chão.
- Entendo, agora bote um casaco e vamos! Não precisa levar nada, quando chegarmos em Roma compraremos tudo o que você precisa! Venha logo! – disse a senhora enquanto se levantava e ia em direção à porta.
- Tá bom, vovó. – disse a menina mordendo os lábios e indo em direção ao quarto.
Quando chegou ao quarto, Mischa estava desnorteada. Não sabia o que fazer, não podia se esquivar, se optasse por se revoltar, não iria mudar em nada, ela conhecia a avó. Com certeza, ela a levaria até amarrada se fosse preciso. Rachel precisava saber o que acabará de acontecer. Portanto, Mischa escreveu uma carta rapidamente e deixou a sobre o balcão enquanto saia com lágrimas nos olhos.
A relva estava molhada e Mischa procurava por todos os cantos ver Rachel. Mas não havia sinal da garota, deveria estar na estrada dos fundos esperando por ela. Um ódio e uma dor tremenda percorriam o corpo de Mischa, que caminhava ao lado da avó e seu segurança em direção ao carro.
Rachel olhava para o relógio e já havia se passado 45 minutos da hora marcada com Mischa. A menina começou a ficar preocupada, Mischa não se atrasava, algo devia ter acontecido. A menina fechou o carro e foi em direção ao apartamento, subiu as escadas rapidamente. Não havia ninguém pelos corredores, estava muito cedo. Quando entrou no apartamento, percebeu que esse se encontrava vazio.
- Aposto que nos desencontramos! –falou para si mesmo com um sorriso no rosto.
Quando a menina estava saindo, percebeu que havia algo sob o balcão. Era uma carta e em seu verso estava escrito “Com todo o amor, Sua Misch”. Rachel abriu a carta já com as mãos tremulas.

Meu amor, minha Rachel.

Não sei como te dizer isso, ainda mais em um pedaço de papel. Mas tenho que ser breve. Minha avó apareceu aqui, é isso mesmo. E me arrastou junto com ela. Estou desesperada, não quero ficar longe de você. Perdoe-me por tudo isso, mas acima de tudo, não desista de mim. Por favor, eu estarei te esperando. Estou deixando no verso da carta o endereço para o qual estou indo, me procure, por favor!
Com muito amor e saudades, sua Misch.




terça-feira, 8 de maio de 2012

Capítulo IX


O outono já alcançava seu fim para que o inverno pudesse chegar. Ao início do inverno o campeonato de Hockey teria sua partida final. E o West Dynamik estava classificado, visto que havia feito a melhor campanha em todo o campeonato. Esse ano as partidas foram realizadas no West Dynamik, o que trouxe todas as outras equipes para se hospedarem nas extensões do colégio. O time de Hockey se preparava para enfrentar o Lions of Suburbio, o time russo.
Mischa e Rachel quase não se falavam, se viam nos treinos e nas partidas, porém, trocavam apenas olhares. Rachel ainda não havia criado coragem para contar a Mischa o que havia acontecido com Blair. Afinal, ela não queria que Mischa se sentisse abalada, visto que essa havia se tornado uma grande jogadora de Hockey e se tornou uma grande artilheira do time de Hockey.
Rachel e Blair pouco se falavam também. Visto que ambas estavam concentradas na competição. Após a noite em que ficaram juntas as duas não se falaram mais, Blair apenas sorria para Rachel e a menina revirava os olhos. Rachel ainda não compreendia o motivo de ter ficado com Blair aquela noite, mas não pode negar que foi bom.
O crepúsculo caia e notava-se que os ônibus e vans das escolas rivais cobriam o pátio do West Dynamik, a maioria das meninas estavam eufóricas, havia carne nova no pedaço. Rachel, ao contrário apenas observava da janela, sabia que teria uma partida importante em algumas horas no estádio. O vento bateu em seu rosto e um arrepio percorreu seu corpo. O inverno de fato havia chegado, visto que alguns focos de neve já começavam a colorir a relva verde.
Após algumas horas Rachel já havia tomado banho e se arrumado para a final do campeonato. A menina vestia a camiseta do time de Hockey, um jeans preto e seus tênis vermelhos. Enquanto descia as escadas percebeu que as garotas do West Dynamik estavam sendo boas anfitriãs para as visitantes, visto que uma orgia acontecia em todos os vão de escadas. Quando chegou ao saguão Rachel tentou evitar a multidão, mas foi em vão.
- Rachel! – disse uma menina com cabelos louros e algumas mechas azuis.
- Sim? – respondeu Rachel erguendo uma das sobrancelhas.
- Não se lembra de mim? – perguntou a menina sorrindo maliciosamente.
- Me desculpe, mas não. Pode me dizer quem é? – Rachel fitava os olhos da menina.
- Meu nome é Sam e dormimos juntas no campeonato de Hockey na Holanda. Foi incrível. – a menina mordeu os lábios.
- Ah, me recordo um pouco. Mas bom ver você outra vez. – Rachel tinha um sorriso amarelo nos lábios – A gente se vê por ai. – disse Rachel tentando se desviar da menina.
- Estarei no bar hoje a noite, passe por lá. – a menina sorria euforicamente.
Rachel virou as costas e revirou os olhos. O seu passado de fato havia escolhido esse verão para lhe atormentar. Os anos underground de Rachel de certa forma haviam sido gloriosos. Muito bebida, muitas garotas e o coração vazio. Um sorriso leve estampou o rosto da menina enquanto um flashback passava por sua mente.
- Sonhando com o que? – perguntou Blair se aproximando da menina.
- Nada. – Rachel respondeu rispidamente.
- Vai para o bar hoje à noite? – perguntou Blair enquanto as duas iam em direção ao estádio.
- No momento só penso na partida. – Rachel não fitava Blair.
 Logo, as duas garotas chegaram ao estádio. Rachel foi em direção à comissão esportiva e Blair se sentou ao lado de algumas jogadoras do time na primeira fileira.
- E então, já voltaram? – perguntou Franchesca, uma garota com cabelos ruivos e olhos castanhos que usava um vestido azul marinho com um cardigã preto.
- Rachel não é mais a mesma. Ela tem me evitado há semanas, depois que dormimos juntas ela não me procurou mais e nem se quer fala comigo direito. – Blair mantinha um sorriso forçado no rosto.
- Acho que a Mischa realmente a tirou dos eixos. – comentou Veronica, uma garota com cabelos repicados e negros como a noite.
- Talvez ela só precise de um tempo para confiar em mim outra vez. – Blair mantinha o sorriso no rosto, mas não hesitou em morder os lábios. Será que essa havia perdido Rachel de vez?
Mischa logo adentrou o estádio que já se encontrava quase lotado. Chelsea havia guardado seu lugar ao lado de Diana e Parcy na primeira fileira. Quando se sentou ao lado das meninas percebeu que Blair não lhe tirava os olhos.
- Qual é o problema dela? – perguntou Mischa irritada.
- Você. – Diana sorria.
- Obrigada. – Mischa sorriu ironicamente. – Mas por quê? Eu não falo com a Rachel há mais de uma semana. – o sorriso esvaiu de seu rosto.
- Misch, eu acho que você deveria ir procurar a Rachel. – sugeriu Chelsea.
- Claro que não. Ela quem estava confusa com os sentimentos dela, não eu. Eu estou esperando ela se decidir. – a menina fitou o chão.
- Você deveria sair essa noite. – sugeriu Parcy.
- No momento, só a partida me importa. – Mischa fitou as amigas e sorriu. – Mas, obrigada por todo o apoio.
As meninas logo foram para o vestiário colocar seus uniformes, a partida começaria em meia hora e todas estavam nervosas. O time das russas tinha força e usava de estratégias violentas, o que assustava boa parte das garotas.
- Boa sorte. – disse Rachel ao se aproximar de Mischa.
- Boa sorte para você também. – Mischa sorriu e seu coração palpitou ao ouvir a voz da menina.
Rachel sorriu e foi em direção a um dos box para se trocar. A maioria das meninas se trocava em meio às outras, mas Rache preferia manter a privacidade. Quando todas já haviam se vestido com o uniforme e colocado todas as proteções Rachel, como capitã, as reuniu e começou a dar as orientações.
- Nós sabemos que elas são fortes e violentas, mas isso não deve nos intimidar. – Rachel falava alto para que todas pudessem ouvir.
- Grande conforto, Rachel! – ironizou Tracy que sorria.
- Temos estratégia e no Hockey isso é tudo. Não se esqueçam! Vamos nos concentrar na nossa agilidade e ataque. – Rachel direcionou seus olhos para Mischa. – Misch, eu quero você jogando ao meu lado esquerdo, como nos últimos treinos. – Mischa sorriu e confirmou um sim. – Tracy, quero você na defesa central, você é forte e ágil, conseguira barrar as russas. O resto do time se mantem nas mesmas posições. NÓS VAMOS GANHAR ESSE CAMPEONATO! – gritou Rachel e as meninas ficaram eufóricas.
Todas saíram do vestiário e Rachel foi falar com Fredroy sobre as orientações dadas as garotas. Ambos ficaram conversando sobre estratégias e pontos fracos do time adversário. O estádio estava lotado. Rachel fitou o relógio central e viu que faltavam 10 minutos para o início da partida.
- Todas para a quadra. Agora. – solicitou Rachel ao time.
As meninas se direcionaram para a quadra e ficaram a treinar alguns discos ao gol. Logo, o time russo adentrou a quadra e a partida estava para começar. Rachel foi ao centro da quadra cumprimentar a capitã do time adversário como manda as regras.
- Você? – Rachel arregalou os olhos ao perceber que a capitã do time adversário se tratava da garota com quem havia falado pela manhã.
- Sim. – a menina sorriu. – Independentemente do resultado, o convite para hoje a noite está de pé. – a menina mordeu os lábios e apertou a mão de Rachel, que voltou para o seu lado do campo.
- Grande estratégia, seduzir a capitã do time. Mandou bem, Rachel! – provocou Tracy.
Rachel revirou os olhos e sorriu. O juiz apitou e a partida se iniciou. Nos dois primeiros tempos o West Dynamik manteve uma distância isolada no saldo de gols 13 x 6, porém, após o intervalo o time russo voltou forte e o placar diminuiu para 13x10. Quando o jogo estava em seus 15 minutos, a capitã do time russo marcou 2 gols e o empate se tornou figura no jogo. Faltavam apenas cinco minutos para o fim da partida. Ambos os times se encontravam nervosos, aos 19 minutos Mischa recebeu o disco de Tracy e lanço-o para Rachel que acertou o fundo da rede dando a vitória ao time da casa. Quando o árbitro apitou o fim da partida o time comemorou eufórico dentro da quadra. Rachel havia mostrado o que sabia fazer, decidir jogos ao final do tempo.
- Obrigada. – disse Rachel a Mischa quando conseguiu se livrar dos cumprimentos do time.
- Pelo que? – perguntou Mischa tirando o capacete e sorrindo.
- Eu não marcaria aquele gol se não fosse pelo seu passe. – Rachel fitava Mischa nos olhos.
- Não seja modesta. Você tinha uma marcação de três garotas e se livrou delas. – Mischa deu um sorriso torto e saiu da quadra em direção ao vestiário.
No vestiário todas as meninas comemoravam e gritavam o titulo que haviam conquistado. Rachel pegou sua mochila e foi em direção a saída quando ouviu chamarem por seu nome.
- Você tem que ir para a festa no Den Lille Havfrue. – disse Tracy.
- Talvez eu apareça por lá. – Rachel sorriu cansada.
Rachel virou as costas para a amiga e foi em direção ao seu apartamento. Ela estava feliz, afinal, havia ganhado o campeonato, porém, algo estava vazio dentro de si. Os olhos de Mischa estampavam seus pensamentos, mas a voz de Blair sussurrava em seu ouvido todas as vezes que fechava os olhos. A menina chegou a casa e foi para o chuveiro, precisava sentir a água quente correndo por seu corpo depois da partida.
Talvez eu deva aparecer por lá.
Após cogitar a ideia de ir para a festa da comemoração Rachel vestiu um de seus jeans pretos que valorizavam suas coxas, uma blusa preta com decote em V, além de delinear os olhos em preto. Quando descia as escadas pensou em voltar para casa, mas decidiu ir até o fim. Em alguns minutos a menina chegou ao bar, esse estava agitado. Logo quando adentrava o bar, Rachel foi abordada por duas garotas do time russo.
- Bela partida. – disse uma delas sorrindo.
- Obrigado. – Rachel sorriu maliciosamente. – Quem sabe ao final da noite podemos jogar outra partida.
Após dizer isso Rachel virou as costas sorrindo e adentrou o bar. A menina não conseguia acreditar que havia voltado à ativa. Fazia tempo que ela não se divertia e talvez hoje fosse o dia ideal.
- Dose dupla de vodca. – pediu Rachel ao barman que logo a serviu.
- Ei. – disse Blair se sentando ao lado da garota. – Que bom que veio.
- É. – Rachel deu um gole em sua bebida e ficou a fitar as pessoas que estavam no bar.
- Procurando alguém? – perguntou Blair deslizando sua mão a coxa de Rachel.
- Talvez. – respondeu Rachel se levantando e indo em direção à multidão.        
Faziam apenas duas horas que Rachel havia chegado e essa já estava bêbada. Além do que essa voltara a fumar e seduzir todas as meninas que olhavam para ela.
- Uma dose dupla de uísque! – pediu Rachel ao barman pela oitava vez desde que chegou.
A menina sentia tudo ao seu redor girando, portanto, achou melhor sair do bar, visto que esse estava com a música alta e jogo de luzes. Quando saiu do bar se sentou em uma pedra próxima dali e ficou a olhar o céu enquanto se deliciava com seu álcool.
- Rachel? – perguntou uma voz conhecida.
- Misch? – Rachel se levantou rapidamente e sentiu uma tontura.
- O que houve com você? – perguntou a menina se aproximando de Rachel. – Meu Deus, que cheiro de álcool é esse?
- Está tudo bem. Eu só preciso ficar sozinha. – Rachel tentou sorrir.
- Eu não vou te deixar sozinha, prometi isso a você. Lembra-se? – perguntou Mischa deslizando a mão pelo rosto da menina.
- Eu não te mereço, pequena Misch. Mas confesso, que eu sinto a sua falta. – sussurrou Rachel fitando os olhos de Mischa.
- Não diga isso. E se quer saber eu também. Todos os dias eu espero que você venha falar comigo e a noite eu fico a olhar o carvalho branco e você sempre está lá. – Mischa sorria.
- Desde que você se foi muitas coisas aconteceram, eu fui uma péssima pessoa e cheguei a conclusão de que eu não te mereço. Você é incrível demais para mim, pequena. Não merece ter o coração partido por alguém como eu. Eu queria ser capaz de soltar a sua mão e ver você ser feliz longe de mim, mas eu descobri que não posso viver sem o brilho dos seus olhos nas minhas manhãs. – Rachel deslizou o polegar pelo rosto da menina.
- Eu devo considerar que você só está me dizendo isso porque está bêbada? – perguntou Mischa com um sorriso torto.
- O álcool só é um coeficiente de coragem, estou apenas dizendo a verdade. – a menina mordia os lábios.
- Vamos para casa. Eu salvo você dessa vez! – Mischa sorriu ao abraçar Rachel pela cintura e caminhar com ela até o seu apartamento.
Quando chegaram ao apartamento Rachel se jogou no sofá e Mischa tirou-lhe os tênis. Em seguida, a menina foi até a cozinha preparar um cappuccino para Rachel. Quando Mischa voltou Rachel já havia dormido, a menina, no entanto a acordou e lhe deu o café quente.
- Eu havia me esquecido do quão bom é o seu cappuccino. – Rachel sorria com os olhos fechados.
- Eu havia me esquecido do quão maravilhoso é estar ao seu lado. E quanto às coisas que você fez ou deixou de fazer, eu não quero saber sobre isso, não agora. Eu quero apenas cuidar de você. Não quero que você se perca, Rachel. – Mischa deslizou a mão pelo rosto da menina.
- Então fique aqui e não se vá mais. – Rachel a fitou nos olhos e beijou lhe lentamente.
Mischa se deitou sobre o corpo de Rachel e trocava beijos lentos e carinhosos com a menina. Rachel acariciava o cabelo da menina e sorria quando a fitava. Não se restava duvidas, era ela a resposta.
- Eu quero você, Rachel. Desde o primeiro dia em que vi você eu sabia que você roubaria meu coração, bem no meu interior eu sabia disso. Porém, só fiquei consciente depois. – Mischa sorria e seus olhos estavam lagrimejados.
- Volta para mim, Misch? Eu sei que fui idiota e que estou completamente bêbada, mas eu quero acordar ao seu lado amanhã. – disse Rachel fitando a nos olhos e acariciando lhe o rosto.
- Não diga mais nada. – disse Mischa selando os lábios de Rachel e deitando-se sobre a menina.
Não demorou e Rachel adormeceu. Mischa ficou olhando a garota dormindo e uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Ela queria que o dia amanhecesse e ouvisse tudo aquilo de Rachel outra vez, mas tinha medo de que o álcool fosse a razão pela qual Rachel havia dito tudo aquilo. Mas agora ela queria apenas olhar para Rachel e dormir ouvindo sua respiração. Até o amanhecer.