domingo, 2 de dezembro de 2012

Capítulo XIII


O dia amanheceu e Rachel acordou com os raios de sol que entravam pela janela batendo em seu rosto. Quando abriu os olhos percebeu que Blair estava deitada sobre seu braço. Rachel a fitou e viu que a menina dormia bem, para se levantar buscou fazer o menor número de movimentos para que Blair não despertasse. Logo, Rachel havia terminado seu banho e fitava-se no espelho.
- Boa sorte! – disse para o seu reflexo. – Garanto que vamos precisar.
A menina vestiu um jeans e uma camiseta de sua banda indie favorita. Rachel sabia que não era o melhor traje para ir visitar a doce e adorável avó de Mischa, mas ela não sabia o que vestir. Quando foi para a cozinha a menina resolveu preparar o café e algumas torradas. Enquanto pegava o pó de café no armário sob a pia esbarrou em alguns fracos e esses caíram. Os frascos eram coloridos e tinha muitas capsulas dentro. Rachel os pegou do chão e os guardou onde eles estavam. A menina não teve curiosidade de ler seus rótulos, supôs que eram apenas vitaminas.
Rachel serviu café em uma xícara para si mesma e foi até a janela da sala. O lugar tinha uma vista linda para os canais que cortavam a cidade. Rachel sentiu um sentimento nostálgico percorrer o seu corpo, ela tentou evitar, mas depois cedeu. A garota já não lutava contra suas lembranças, agora elas eram aceitas com carinho. Após terminar o café a menina foi até o quarto conferir se tudo estava bem com Blair e saiu.
O vento estava frio na rua o que fez Rachel se arrepender de não ter pegado um casaco. A menina decidiu ir caminhando até o endereço que Mischa havia lhe passado. Enquanto caminhava Rachel decidiu manter sua mente limpa e tranquila. Não havia o que ficar pensando, de agora em diante as coisas seriam como são, tudo de acordo com seus acontecimentos. Nada de planos, nada de expectativas. Rachel havia deixado a vida lhe surpreender.
- Deve ser aqui. – disse a si mesma quando parou diante uma casa estonteante. A casa tinha cercas neoclássicas e um jardim inglês imenso a sua frente.
Rachel respirou fundo e deu um sorriso irônico. As coisas não seriam nada fáceis. Logo, a menina encontrou o interfone e o tocou. Seu coração parecia saltar pela boca enquanto ele chamava.
- Mansão Paparatti, quem ostaria? – perguntou uma voz quase robótica.
- Senhorita Groffrean vim da Dinamarca, sou amiga da senhorita Mischa. – Rachel disse da forma mais formal que poderia imaginar.
Após alguns minutos o portão se abriu e Rachel começou a atravessar o imenso jardim, ela tinha que admitir que ele era realmente muito belo. Quando chegou a porta tocou a campainha e um mordomo logo a atendeu.
- Entre, por favor! – Rachel reconheceu a voz robótica do interfone, era ele.
Rachel entrou na sala que tinha uma decoração neoclássica com diversas obras de arte pelas paredes e esculturas em todos os cantos. O pé direito duplo dava um ar de grandeza e soberba ao ambiente. Porém, Rachel não se impressionou. Era como se estivesse na casa de sua avó ou tias avós.
- Olá querida. – disse uma voz fina e prepotente ao mesmo tempo.
- Olá. – respondeu Rachel se virando e fitando uma senhora com a pele branca feito a neve, cabelos grisalhos bem penteados e joias no pescoço. – Sou amiga de Mischa, queria falar com ela.
- Porque a pressa? – a mulher fitava Rachel, principalmente seus velhos tênis vermelhos.
- Não há pressa. Ela apenas pediu para que eu viesse visita-la quando pudesse. – Rachel tentou sorrir.
- Vocês estudavam no mesmo colégio? – perguntou a mulher enquanto se sentava no sofá e fazia um gesto convidativo para que Rachel fizesse o mesmo.
- Sim. – respondeu Rachel se sentando no sofá. – Dividíamos o mesmo quarto.
- Então era você? – a expressão no rosto da avó de Mischa agora era de desgosto e até mesmo nojo. – Como não percebi isso antes?
- Como assim? – Rachel ergueu uma das sobrancelhas.
- Eu vi o estado do “apartamento” em que vocês moravam e Mischa ainda me disse que você costuma não passar as noites em casa. Não quero minha neta com pessoas irresponsáveis como você. – a senhora fitava Rachel com seus profundos olhos azuis, iguais aos de Mischa.
- Ela disse isso? – Rachel perguntou. – Digo, isso não é verdade. Quero dizer, há muitas coisas que você desconhece sobre mim. – Rachel tentou manter o tom de voz calmo.
- E o que eu deveria saber sobre você, querida? – perguntou irônica.
- Eu sou namorada da sua neta. – Rachel a fitou com um sorriso malicioso.
Rachel não estava disposta a agradar aquela mulher. Ela queria apenas ter Mischa em seus braços e tira-la daquele lugar. Após proferir tais palavras à garota esperava por uma sequencia de gritos e ofensas, ela estava preparada para isso, afinal, não seria a primeira vez.
- Porque está me dizendo isso? – perguntou a senhora sem alterar o tom de voz.
- Porque é a verdade. – Rachel tinha o tom de voz elevado.
- Não acredito nisso, querida. – a senhora tinha um sorriso no rosto. – Minha neta é namorada de Matt Donaver, um príncipe. Ela jamais o trocaria por uma garota, ainda mais por você.
- Pois acredite, ela trocou. – Rachel a fitava com raiva nos olhos, porém, mantinha um sorriso irônico nos lábios.
- Não perca seu tempo com histórias tolas.
- Se chama de história tola o fato de sua neta estar apaixonada por mim e me deixar uma carta pedindo para salva-la de você, talvez isso seja uma história tola. – Rachel a fitou nos olhos.
- Cale-se agora! – pela primeira vez o tom de voz da mulher havia se elevado.
- Chame Mischa aqui se duvida tanto de mim. Chame-a e vai ouvir da boca dela o quanto ela está apaixonada por mim. – Rachel a desafiou.
Gasparina a fitou por alguns segundos. Ela não podia aceitar tamanha audácia e pior, não podia deixar que aquela garota difamasse sua neta ali na sua frente. Logo, a mulher pediu para Charles chamar Mischa até a sala, porém, fez restrições sobre o que se tratava.
- O que foi vovó? – perguntou Mischa descendo as escadas. A menina vestia um vestido verde oliva e um casaco na cor salmão. Estava linda. – Rachel? – gritou a menina eufórica ao ver a menina para no meio da sala.
- Assista ao espetáculo. – sussurrou Rachel para Gasparina.
- O que faz aqui? – perguntou Mischa disfarçando enquanto abraçava Rachel.
- Não precisa fingir querida, eu contei tudo a sua avó. – Rachel sorria.
- Tudo o que? – a menina a fitou com os olhos arregalados.
- Essa garota diz ser sua namorada. – respondeu a avó fitando-a.
Mischa teve os olhos petrificados ao ouvir isso. Suas mãos começar a tremer e suas bochechas nunca estiveram tão vermelhas. A menina fitou Rachel e essa tinha um sorriso glorioso no rosto, quando se virou para sua avó via um olhar cruel, frio e de reprovação.
- Diga-me algo sobre isso. – falou Gasparina fitando-a.
- Vovó, se acalme. – Mischa tinha a voz falha.
- Conte a verdade, Misch. – disse Rachel se aproximando e colocando a mão na cintura da menina.
- Eu não sei do que você está falando. – disse Mischa se afastando de Rachel.
- Como assim? – Rachel a fitou. A menina acreditou que seria algum disfarce para enganar a avó. – Não precisa mentir, minha pequena. Acredite em mim.
- Não fale com tamanha intimidade comigo. Nós apenas dividíamos o mesmo quarto naquele colégio horrível. Eu nunca quis nada com você. – Mischa fitava a menina. – Olhe para você, acha mesmo que eu ia querer algo sério com “a garota problema”?
- Misch, diga-me que isso é apenas uma encenação. – Rachel engoliu em seco. – Não precisamos mentir. Está na hora de você enfrentar a sua família.
- Não me peça para fazer isso. – havia tristeza nos olhos da menina enquanto fitava Rachel. – Eu nunca quis te magoar, mas as coisas são diferentes agora. Você não pode chegar aqui e falar todas essas coisas como se elas não provocassem nenhum efeito.
- Misch, não estou te entendendo. Porque me deixou aquele bilhete? Porque me fez todas aquelas promessas? O que essa mulher fez com você? – Rachel fitou a avó de Mischa com ódio nos olhos.
- Se acalme, Rachel. – Mischa respirou fundo enquanto olhava para a avó que permanecia em silêncio apenas fitando a cena. – Sei que você tinha outros planos, mas eu não posso.
- Não pode ou não quer? – Rachel fitou-a. – Eu devia ter imaginado que você jamais enfrentaria a sua família para ficar comigo. Aliás, quem sou eu além da garota problema não é mesmo? – Rachel tinha lágrimas nos olhos. – Eu sabia que essa visita não seria fácil, imaginei que teríamos sim uma discussão, mas em momento algum imaginei que essa discussão seria com você e que você não estaria ao meu lado.
- Rachel...- Mischa tentou falar mas sua voz falhou.
- Eu vou te dar uma última chance. Diga-me de uma vez por toda. Todas as palavras que você acabou de proferir foram verdadeiras? Sim ou não. Apenas isso. – Rachel a fitou no olhos.
- Responda Mischa. – falou Gasparina se intervindo pela primeira vez.
- Eu não posso ficar com você, Rachel. Eu percebi que tudo aquilo não se passava de um sonho, a realidade aqui fora é diferente. Sobre as palavras duras que eu disse, esqueça-as. Eu estou nervosa. Mas sobre nós, guarde apenas as suas boas lembranças porque eu não posso continuar. Eu sinto muito. – uma lágrima escorreu pelo rosto de Mischa.
- O que quer dizer com isso Mischa? – perguntou a avó ao perceber que a neta de fato tinha um sentimento por Rachel.
- Vovó, não torne isso mais difícil. – Mischa a fitou enquanto chorava. – Rachel é uma garota incrível, ela precisa saber que nem tudo foi mentira. Eu te amo Rachel. – Mischa a fitou e ignorou a presença da avó. – Mas eu não posso ficar com você.
- Se não podia ficar comigo porque me deixou aquela droga de bilhete? – Rachel tinha fúria nos olhos.
- Eu estava desesperada. – lágrimas escorriam pelo seu rosto. – Mas agora eu estou com os pés no chão e consigo enxergar a realidade. Eu não vou mais voltar para o colégio, meus pais estão voltando para cá, e quem sabe eles até possam se reconciliar.
- Eu não posso acreditar no que estou ouvindo. – Rachel a fitou. – Onde está aquela garota pela qual eu me apaixonei? Você me disse tantas coisas, fez tantos planos comigo e agora está jogando tudo fora por nada?
- Não estou jogando tudo fora por nada, Rachel. – a menina deslizou o polegar pelo rosto de Rachel. – É a minha família, eu não posso fazer isso. Não consigo fazer o que você fez, me perdoe por isso. Eu te amo, eu juro. Tudo parecia tão fácil enquanto estávamos no colégio e tínhamos apenas aquele nosso pequeno mundo, agora no mundo real tudo seria muito difícil.
- Eu não quero mais ouvir nada de você. – Rachel a fitou. – Eu realmente me enganei sobre você. Você quis ficar comigo porque era uma garota carente e traída pelo namorado, apenas isso. Você achava lindo ficar comigo desde que ninguém soubesse não é isso? Nós poderíamos continuar juntas se eu não tivesse falado tudo para a sua avó não é mesmo? Fingiríamos ser amigas e felizes não é?
- Eu não imaginava que você iria chegar aqui e contar tudo, não era para ser assim. – Mischa a fitou chorando.
- Você jamais enfrentaria a sua família para ficar comigo, essa é a verdade. – Rachel a fitou e proferiu suas ultimas palavras.
Logo, Rachel virou as costas e foi em direção a saída. Ouviu Gasparina e a própria Mischa proferir algumas palavras, mas ignorou. Ela iria embora daquele lugar, mas um pedaço de seu coração estava jogado naquele chão. 

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