segunda-feira, 30 de abril de 2012

Capítulo IV


O sol estava nascendo entre as colinas e a água quente ainda caia sob o corpo das duas garotas. Mischa dormia nos braços de Rachel, que estava encostada na parede. As marcas no rosto da menina ainda doíam. O que fez com que essa acordasse. Ao abrir os olhos a menina percebeu que havia dormido no box do banheiro e que Mischa estava seminua em seus braços. Rachel fechou os olhos e se lembrou da noite passada. Um sorriso torto brotou em seu rosto, a dor ainda incomodava. Mischa dormia tranquilamente em seus braços. Rachel não hesitou em retirar uma mecha de cabelo que estava caída sobre o rosto da menina.
- Rachel? – disse Mischa enquanto abria os olhos.
- Estou aqui. – respondeu a menina enquanto colocava sua mão sobre a da garota.
- Obrigada por ontem à noite. – disse Mischa com um sorriso nos lábios.
- Me agradeça não servindo de banquete para as outras garotas. – Rachel sorria.
- Outras garotas? Quer dizer que para algumas tudo bem? – Mischa olhava para Rachel e sorria estonteante.
- Ahh...Err...Isso é com você! – Rachel franziu o cenho.
- Que tal você? – perguntou Mischa.
Rachel a olhou nos olhos, essa talvez tenha sido a melhor frase dentre tanto tempo. Os olhos de Rachel já não eram repletos de dor e fúria, havia algo brilhando ali.
- Eu não me incomodaria. – Rachel sorriu maliciosamente e acariciou o cabelo da menina.
- Posso te contar um segredo? – perguntou Mischa se recostando em Rachel.
- Sim.
- Desde a primeira vez que vi você sabia que algo iria acontecer. – Mischa sorria.
- Algo como eu levar uma surra e salvar você enquanto você estava dopada e seminua e depois de tudo isso te carregar em meus braços na chuva? – Rachel ironizou.
- Quase isso! – Mischa ria.
Rachel a olhou e sorriu. Um sentimento bom invadia seu interior. A tempestade havia passado e as nuvens abriam passagem para o sol. Mischa não queria sair dos braços de Rachel, a menina se sentia protegida e de fato, ela estava.
- O que você acha de tirarmos essas roupas molhadas e tomarmos café? – sugeriu Rachel com um sorriso irônico.
- É uma boa ideia. Mas se não se importa eu gostaria de tomar banho primeiro. – disse Mischa.
- Tudo bem, vou trazer toalhas para você. – disse Rachel enquanto se levantava.
Quando Rachel estava saindo se virou e percebeu que Mischa estava de costas e que já havia tirado seu sutiã. A menina fechou os olhos e bateu a porta. Um sorriso brotou em seus lábios.
Às vezes precisamos levar alguns socos para perceber que a razão que precisamos para sorrir está a nossa frente.
Enquanto Mischa tomava banho, Rachel começou a fazer o café da manhã. Esse seria repleto de panquecas e sucos de frutas. A aula de história havia começado há duas horas, mas pela primeira vez, Rachel não se importou em perdê-la.
Acho que realmente estou me apaixonando pela Rachel. Ontem ela me protegeu como ninguém jamais fez. E quando estou ao lado dela sinto meu coração tranquilizado e não me sinto sozinha. Sei que por trás de tanta frieza há uma dor, mas eu posso reverter isso. E ontem eu tive a prova de que ela realmente se importa comigo. Eu quero ser dela.
Rachel terminava de botar as panquecas sobre o balcão e uma geleia de cereja, quando Mischa entrou na sala. Essa vestia apenas uma camisola de seda preta e lingeries brancas. Rachel ficou hipnotizada quando a viu e Mischa percebeu isso.
- O que foi? – perguntou a menina se aproximando de Rachel.
- Ahh... Nada. O café está pronto! – disse Rachel desviando os olhos da menina.
- Estou faminta! – disse Mischa enquanto pegava uma panqueca e a lambuzava de geleia. – Não vai para a aula hoje?
- Não estou a fim de exibir meus hematomas. – Rachel sorriu.
- O que vai fazer hoje então? – perguntou Mischa enquanto se sentava no balcão da cozinha, deixando Rachel desnorteada.
- Ahh... Acho que vou ler e dormir um pouco. – respondeu Rachel enquanto pegava uma panqueca.
Mischa ficou olhando para a menina que e percebeu que por trás do jeans e da camiseta preta Rachel possuía um belo corpo. Isso a deixou tentada.
- Rachel. – chamou Mischa dengosa.
- O que? – perguntou Rachel se virando.
- Nada. - respondeu Mischa.
Rachel sorriu e abrir a porta para pegar o boletim diário e em seguida se jogou no sofá. Mischa se sentou ao lado da menina, porém, algo lhe deixava imperativa. Rachel continuou lendo o jornal e quando se levantou para deixa-lo sobre a mesa deu um beijo na testa de Mischa.
- Tenha um bom dia. – disse Rachel sorrindo.
- Você vai sair? – perguntou Mischa.
- Vou dar uma corrida pelo campus. Logo, as competições irão começar. – Rachel sorria.
- Entendi. – Mischa se deitou no sofá.
- O que foi? – perguntou Rachel se ajoelhando frente à garota.
- Nada. Só estou cansada, vou dormir um pouco. – respondeu a menina.
Rachel sorriu e se levantou. A menina vestiu seu casaco e saiu. Mischa ficou a olhar a porta bater lentamente. O que estava acontecendo com ela?
Todas as vezes que penso que ela está mais próxima ela se vai. O que eu faço? Eu preciso dessa garota.
Rachel corria pela grama ainda molhada pela chuva da noite anterior. O vento gelado batia em seu rosto e os hematomas em seu rosto ardiam. Estava um dia frio. E o céu estava nublado, era um bom dia.
Como eu queria tê-la em meus braços. Depois que a Blair foi embora meu coração se tornou algo gelado e essa garota em três dias o aqueceu como brasa. Os olhos dela estão decorados em minha mente desde aquele dia no café. Eu preciso dessa garota!
Rachel voltou correndo para o apartamento. Seu coração estava acelerado e um sorriso se esboçava em seu rosto. O frio em seu rosto já não incomodava mais. Ela teria a sua garota agora e nada iria lhe impedir. Quando a menina chegou ao apartamento, encontrou Mischa arrumando seu quarto.
- Já voltou? – perguntou Mischa sorrindo.
- Não diga nada. – sussurrou Rachel que se aproximou do rosto da menina e ficou a olha-la nos olhos.
- Eu não direi. – sussurrou Mischa enquanto tirava o capuz de Rachel.
Rachel sorriu e seus lábios gelados lentamente tocaram nos lábios quentes de Mischa, que suspirou. Rachel segurou a menina pela cintura que a abraçou o pescoço. Ambas sorriam durante o beijo. Rachel então forçou seu corpo sobre Mischa e a deitou em sua cama. A menina que ainda vestia apenas uma camisola de seda tinha as coxas acariciadas por Rachel.
- Você não sabe o quanto eu queria isso. – Mischa sorriu.
- Eu quis você desde a primeira vez em que te vi pequena. – Rachel lhe beijou a ponta do nariz e a envolveu em um abraço.
- Quem diria que eu ia conseguir derreter esse coração hein? – brincou Mischa.
- Quem diria que alguém como você se interessaria por mim. – Rachel sorriu para a menina.
- Está brincando não é mesmo? Todas as garotas desejam você. – a menina ergueu uma das sobrancelhas – Eu queria descobrir o por que! – a menina sorria.
- Talvez um dia você descubra. Ou melhor não. – Rachel mordeu os lábios.
- O que você esconde de mim hein? – perguntou Mischa mordendo as bochechas da menina.
- Digamos que eu fui uma garota má há alguns anos atrás. – Rachel riu maliciosamente.
- Então era verdade que você ficava com todas as novatas e depois as dispensava? - perguntou Mischa enquanto acariciava o rosto da menina.
- Digamos que sim. Mas não vamos falar disso agora! As coisas mudaram! – disse Rachel que em seguida beijou a menina.
As duas se mantinham envolvidas em um abraço regado de beijos e mordidas. Mischa não se cansava de ver Rachel sorrindo. E Rachel tocava a pela macia da menina com toda delicadeza.
- Quer sair comigo hoje à noite? – disse Rachel.
- Está me convidando para um encontro? – Mischa sorria.
- Se você chama de encontro eu levar você a um lugar legal. – Rachel ria e mordia os lábios.
- Quanto romantismo! – Mischa ria.
- Eu me esforço.  – disse Rachel que em seguida mordeu o lábio da menina que se arrepiou. – Mas agora eu preciso ir para a monitoria. Estarei te esperando embaixo do carvalho branco as 21:00, esteja lá. – a menina se despediu de Mischa com um beijo no pescoço.
Mischa ficou deitada na cama e viu Rachel saindo e em seguida o barulho da porta batendo. Rachel havia deixado seu casaco sobre a cama, Mischa não hesitou em pega-lo e sentir o perfume da garota que havia beijado seus lábios.
Meu Deus, o que foi isso? Ela me beijou e me convidou para um encontro? Devo estar enlouquecendo. Porém, que essa loucura continue.
Mischa adormeceu sobre o casaco da menina e acordou apenas quando eram 17:00 e esta estava louca de fome. Então vestiu um jeans e uma camiseta vermelha, além disso, não hesitou em vestir o casaco de Rachel. A menina desceu as escadas e algumas garotas a olharam.
Aparentemente, todos sabem que esse casaco é dela.
Mischa riu baixinho e continuou seu caminho até o refeitório. Quando chegou pediu um sanduiche e alguns bolinhos de ameixa. Após alguns minutos viu Chelsea ao longe e chamou pela menina.
- Ei, Mischa! – disse Chelsea apreensiva. – Fiquei sabendo do que aconteceu ontem, que barra hein? – a menina se sentou ao lado de Mischa.
- Eu sei, mas as coisas agora estão bem. – Mischa sorria.
- Espera ai, então é verdade? – disse Chelsea ao ver o casaco que Mischa vestia – Os boatos?
- Quais são eles? – Mischa tinha um sorriso sapeca no rosto.
- Dizem que a Rachel brigou com a Toxic por você e saiu te carregando nos braços e blá blá blá – a menina ria.
- Ela foi minha heroína. – um sorriso bobo brotou no rosto da menina.
- Vocês estão...- Chelsea começou a gargalhar.
- O que você está pensando? – perguntou Mischa apreensiva.
- Estão namorando? – questionou Chelsea.
- Não, eu acho. – Mischa revirou os olhos e sorriu – Mas nos beijamos. – as bochechas de Mischa coraram.
- SÉÉRIO? – Chelsea estava eufórica. – E você gostou? – sorriu maliciosamente.
- É claro. Não é você quem vive dizendo que ela é o sonho de consumo da maioria das garotas? Existe uma razão! – Mischa ria.
- Eu não consigo acreditar. Justo você! – Chelsea ria.
- E tem mais, ela me convidou para um encontro. – Mischa tinha as bochechas coradas.
- Não consigo acreditar! Estamos falando da mesma Rachel?
- É claro, sua boba! – Mischa sorria. – Mas tem um problema.
- Qual? Não sabe que roupa usar? – Chelsea ironizou.
- Não tenho problema com isso! – Mischa riu orgulhosa. – É só que eu não sei o que fazer, como agir e o que falar com ela.
Chelsea se aproximou do rosto de Mischa olhou para a menina e sorriu.
- Apenas seja você. Se ela te convidou é porque tem algo em você que ela gosta. Afinal, ela levou uma surra por você.  – Chelsea riu.
- Isso amplifica o problema. – disse Mischa enquanto tomava seu chá com limão. – Ela é tão imprevisível. Eu não sei do que ela gosta ou não gosta. – Mischa suspirou - Vou me sentir o Nemo querendo voltar para casa.
- Eu acho que você não deve se preocupar com isso agora. Afinal, é o primeiro encontro.  – Chelsea tentou acalmar a menina
As duas meninas sorriram e Chelsea foi até o apartamento de Mischa para ajudar a menina a se produzir. Afinal, o encontro estava marcado para daqui a duas horas. Mischa, no entanto se sentia insegura.
- Não acredito que estou no apartamento da Rachel. – disse Chelsea animada ao entrar.
- Chelsea... – Mischa revirou os olhos ao reprimir a garota.
- Desculpa, Senhorita Groffrean. – Chelsea ironizou.
- Groffrean? Esse é o sobrenome dela? – Mischa sorriu.
- Sim. Ela vem de uma longa linhagem da Dinamarca. E quem sabe você possa fazer parte dela. – a menina ria.
- Chelsea, vamos ao que interessa. Por favor! – Mischa foi para o seu quarto e começou a revirar seu armário em busca de um bom vestido.
- Que tal esse? – perguntou Mischa com um pequeno vestido preto com peitoral bejeweled e saia de tecido Muppet.
- Esse vestido é maravilhoso! – exclamou Chelsea. – Mas acho que não é ideal para a ocasião. Pelo que sei as alunas só podem sair do campus apenas no segundo sábado do mês, então ela vai te levar em um lugar por aqui mesmo. Que tal algo mais simples? – sugeriu a amiga.
- Que tal essa calça de couro preta e essa blusa branca com decote em V?  
- Você vai ficar linda. – Chelsea sorria.
Mischa tratou de logo ir para o banho e se arrumar logo em seguida. Chelsea voltou para seu apartamento, visto que tinha aula de latim. Enquanto tomava banho Mischa se lembrava dos beijos que havia trocado com Rachel e um sorriso estampava seu rosto. Sem demora a menina terminou o banho e tratou de se arrumar. Enquanto terminava de prender o cabelo viu que faltavam apenas trinta minutos para a hora marcada.
Que estranho! Rachel não veio se arrumar, será que ela se esqueceu do encontro?
Mischa tentou não pensar nisso e terminou sua maquiagem. Olhou no relógio e faltavam apenas dez minutos. Essa então pegou sua jaqueta sob a cama e sua bolsa. Após fechar a porta desceu as escadas e foi em direção ao carvalho. Seu coração batia euforicamente. Nunca havia ficado tão nervosa com um encontro. Quando se aproximava do lugar conseguiu notar a presença de Rachel, ela não havia esquecido o encontro. Um alivio tomou conta de Mischa.
Quando Rachel se virou e viu Mischa essa ficou chocada. Ela estava maravilhosa. Seus olhos, sua boca, seu corpo tudo se encaixava perfeitamente naquele pequeno vestido preto. Os olhos de Rachel brilharam ao ver a menina se aproximar.
Mischa também se impressionou com Rachel. Ela estava linda. A menina usava uma blusa preta com seguintes escritas em verde “WHAT THE HELL”, Mischa riu após ler. Rachel também vestia um jeans preto que valorizava as suas coxas, ela realmente estava muito atraente. Além do que seus cabelos estavam penteados e seus olhos verdes-oliva delineados com preto.
- Você está...maravilhosa! – disse Mischa mordendo involuntariamente os lábios.
- Não tanto quanto você! – disse Rachel entrelaçando sua mão com a de Mischa.
As duas caminharam pela grama sob a lua cheia e seu charme. O vento batia calmamente em seus rostos.
- Pensei que você tivesse esquecido o encontro. – Mischa sorria.
- É claro que não. Aliás, espero que goste do lugar. – Rachel sorriu.
Após alguns minutos caminhando sob a grama as duas chegaram à beira do lago Kloer. A lua estava cheia e refletia no lago. As duas se sentaram a beira do lado e Rachel tirou os tênis e dobrou a calça para molhar os pés na água.
- Que tal? – perguntou Rachel fitando a lua.
- Incrível! – exclamou Mischa após encostar-se ao ombro da garota.
- Nunca trouxe ninguém aqui. – a menina olhou para Mischa. – É meu lugar favorito em todo o campus. – Rachel sorria.
- Sou tão especial assim para você? – perguntou Mischa olhando para a menina.
- Você é razão pela qual eu venho sorrindo nos últimos dias. – Rachel beijou a bochecha da menina.
- Eu nunca me senti tão bem ao lado de alguém. Com você eu me sinto segura. – Mischa beijou o canto esquerdo da boca de Rachel.
- Se eu fosse você não teria tanta segurança assim, afinal, eu levei uma surra tentando salvar você! – Rachel sorria.
- Mas no final da noite foi em seus braços que eu adormeci. – sussurrou Mischa.
As bochechas de Rachel coraram levemente. A garota apenas sorriu e se deitou na grama.
- Deita aqui ao meu lado - disse Rachel.
Misha se deitou e elas ficaram de lado, se encarando por alguns segundos, pequenos sorrisos em olhares. Rachel observava a clara pele de Mischa totalmente banhada pela lua e a contemplava com seus olhos arregalados e penetrantes. Elas se aproximaram e ainda continuaram a se encarar. Logo começaram a se beijar de forma calma. Havia o infinito para elas.
As mãos de Rachel acariciavam as coxas da menina lentamente e esta fez o mesmo, se puxaram mais contra si. Elas continuavam a se beijar enquanto suas mãos percorriam suas costas. Rachel tateou a pele de Mischa erguendo um pouco a camisa da garota, deixando sua barriga à mostra.
A loira a encarou.
- Rachel... – sussurrou Mischa.
- O que foi, pequena? – perguntou Rachel sorrindo. – Seus olhos estavam cintilantes e profundos. Havia um sorriso ali.
 Mischa pegou uma das mãos da menina e a pôs sob seu coração.
- Tá sentindo? – perguntou Mischa. – Fazia tempo que eu não sentia meu coração disparar assim. – a menina tinha um sorriso doce.
Rachel se encontrava por cima de Mischa e esta se agarrava com todas as forças à garota abaixo do céu estrelado. Seus cabelos loiros, sua pele rosada, tudo era perfeito ao contraste do céu cinza.
Mischa arfava sobre o contato que Rachel permitia sua mão realizar. A loira se continha às caricias que deslizavam sobre o seu corpo, e naquele momento se pegava pensando como poderia ser tão perfeito, como poderia existir coisa melhor no mundo do que estar ali com ela, com apenas ela.

sábado, 28 de abril de 2012

Capítulo III



O dia amanheceu e já se ouvia a agitação das alunas no corredor. Era o primeiro dia letivo no colégio. Era a hora de conhecer as alunas novatas e descobrir quais salas iriam ser destinadas a cada uma. Rachel já havia acordado quarenta minutos antes de Mischa. Portanto, tratou de tomar banho e se vestir. A menina vestiu um jeans preto e uma camiseta preta. Como sempre. Mischa quando acordou viu que Rachel havia saído do banho, visto que o cabelo dessa estava molhado.
- Bom dia. – disse Mischa.
- Bom dia. – respondeu Rachel sem olhar a menina enquanto arrumava sua mochila.
- Animada para o primeiro dia de aula? – perguntou Mischa se jogando no sofá.
- Porque eu estaria? Não há nada de novo para mim. – respondeu Rachel colocando a mochila nas costas e saindo. – Boa sorte. – disse antes de bater a porta.
Mischa se irritou com o comportamento de Rachel. Ela de fato não entendia o motivo da menina agir de tal modo. Em um dia ela estava dócil e no outro se tornava totalmente ríspida. Porém, a menina não quis se chatear com isso. Afinal, era o primeiro dia de aula.
Espero que o dia hoje seja bom, afinal, eu tenho que encontrar uma razão para conseguir sorrir neste lugar.
Mischa tomou banho durante vinte minutos e em seguida foi para o quarto se arrumar. A menina soltou os cabelos e os escovou. Os lábios da menina estavam rosados devido ao batom usado por essa. A menina vestia um jeans preto e uma blusa branca que valorizava sua cintura. Supondo que lá fora estaria frio, vestiu um cardigã verde oliva e saiu. Estava linda.
No corredor Mischa conferia a sala onde teria a sua primeira aula. Era aula de biologia, uma de suas matérias preferidas. Ficou pensando em como seria o professor, visto que o seu antigo professor era um velhinho que vivia a contar sobre a Segunda Guerra Mundial, na qual lutou.
E Rachel? Qual será a turma dela? Pelo que pude entender, ela está no último ano, então está um ano a minha frente. Talvez tenhamos algumas aulas juntas.
Mischa logo encontrou a sala de aula. Quando entrou percebeu que a maior parte da turma já estava presente. A menina buscou se sentar no canto direito e na terceira carteira. Ao lado de um grupo de meninas que conversavam.
- Seja bem vinda! – disse uma das garotas que tinha uma mecha rosa no cabelo negro como a noite.
- Obrigada. Meu nome é Mischa, e o de vocês? – perguntou Mischa enquanto se virava para cumprimentar as meninas.
- Eu sou Alexandra – respondeu a menina – e essas são Katherine e Toxic. – Katherine era uma garota loira e com um olhar sedutor. Já Toxic tinha cabelos negros até os ombros, um piercing no nariz e uma cicatriz na testa, porém, um corpo definido e que arrancava suspiros de algumas garotas.
- Muito prazer! – disse Toxic quando se aproximou da menina e lhe beijou a mão. – Seja bem vinda!
Mischa se sentiu um pouco constrangida, mas sorriu. Aparentemente, elas eram um grupo respeitado por todas as outras garotas, visto que essas não tiravam lhes os olhos. Logo, o professor entrou e Mischa se encantou por ele. Ralf deveria ter cerca de 35 anos e um sorriso divino. Seus olhos cor turquesa iluminavam toda a sala, além de sua imensa simpatia que cativava todas as meninas, exceto Toxic que nem se quer prestava atenção na aula.
Por se tratar da primeira aula Ralf apenas apresentou o plano de ensino e uma introdução à citologia. Logo, a primeira aula havia chegado ao fim. Mischa ficou a fazer algumas anotações enquanto a maioria das garotas buscava interagir umas com as outras. De longe, Mischa observava que Toxic não tirava lhe os olhos.  Mischa ignorou e sorriu para si mesma. A segunda aula era de álgebra, o pavor de Mischa. Porém, o professor era um homem de meia idade que vivia a lamentar de seus antigos relacionamentos, o que arrancou diversas risadas de Mischa.
- A verdade é que quando você tenta ser bom para alguém, você se fode. Essa é a lei da vida. – afirmou Cabral enquanto anotava o Teorema de Pitágoras na lousa.
Todos riram e Mischa percebeu que a filosofia do professor talvez tivesse algum sentido. Após alguns exercícios a aula terminou. O tempo estava passando rápido e de uma forma divertida. A última aula estava para começar quando Mischa foi surpreendida.
- Misch, queremos te convidar para a festa das calouras. – disse Katherine com um convite em mãos.
- Festa das calouras? – perguntou a menina sorrindo.
- Sim. A Toxic sempre realiza uma festa para as calouras no primeiro dia de aula, e como você é caloura, deveria ir para interagir com as meninas e tudo mais. – disse Alex.
- Tudo bem! Eu vou! Afinal, preciso fazer amigas aqui. – disse Mischa sorrindo enquanto pegava o ingresso.
- Estaremos esperando você! O endereço está no verso do convite! – disse Alex enquanto se virava e voltava para o seu lugar.
Mischa leu o convite e se sentiu mais interessada ainda a ir nesta festa. Quando olhou ao seu redor viu que várias garotas haviam recebido o convite e estavam eufóricas. Porém, algumas não detinham o convite. Isso significava alguma coisa. Porém, Mischa não se importou. A última aula foi ministrada pela professora Dregthur, uma senhora de setenta anos e que dava aula de geopolítica. Mischa fez diversas anotações durante a aula, mas queria descansar e pensava em que roupa usaria para a festa.
- Tenham um bom dia, meninas! – disse a professora após terminar a aula.
Todas as garotas saíram da sala e o único assunto que podia se ouvir era a festa de Toxic. Mischa ouviu dizer que a festa encobria todo o bloco ao lado da quadra de esportes. Isso a deixou mais impressionada iria conhecer bastante gente e as coisas poderiam melhorar.
- Ei, Misch! – disse Chelsea ao ver a menina passando pelo corredor.
- Ei, Chel! – respondeu Mischa que abraçou a menina.
- Foi convidada para a festa da Toxic? – perguntou Chelsea.
- Sim e você? – perguntou Mischa enquanto as duas se direcionavam para o refeitório.
- Geralmente, ela só convida as novatas. Mas eu já tive um lance com a Katherine, então sempre descolo convites. – respondeu Chelsea sorrindo.
Mischa sorriu e se sentou em uma mesa ao centro do refeitório. Ambas pedira batatas hostis e arroz piemontês. As meninas conversavam sobre como havia sido as aulas pela manhã. Após terminarem o almoço Mischa foi para o apartamento descansar e se arrumar para a festa. Quando chegou ao apartamento, percebeu que Rachel não havia chegado ainda.
Deve estar na monitoria! – supôs Mischa.
A menina foi para o quarto descansar e dormiu cerca de três horas. Quando acordou foi direto para a sala. Essa vestia uma camisola preta de seda, o que surpreendeu Rachel quando a viu.
- Pensei que ainda estivesse fora. – disse Mischa quando entrou na sala e viu Rachel debruçada sobre um livro.
- Eu cheguei há algum tempo. – respondeu Rachel com o olhar desnorteado ao ver Mischa vestida daquela forma.
Porque ela está vestida assim? Esses não são trajes para se vestir enquanto cochila à tarde.
- Como foi seu primeiro dia de aula? – perguntou Mischa após se jogar no sofá.
- Normal. – respondeu Rachel evitando olhar para a pele branca da menina em contraste com a seda negra.
- Vou a uma festa hoje. – disse Mischa olhando para Rachel.
- Hm. – respondeu Rachel sem tirar os olhos do livro.  
A sala ficou em silêncio por alguns minutos. Mischa ficou com a face enfurecida. Rachel era tão fria e sínica que a tirava do sério.
- Às vezes você é tão estúpida! – disse Mischa ao sair da sala.
Rachel tentou se concentrar na leitura, mas foi em vão. Mischa não parava de falar e resmungar, mas o que ela podia fazer? Nada. Rachel fechou o livro que estava lendo, vestiu seu casaco e saiu. Mischa foi para o quarto escolher o vestido que iria usar e esquecer o infortúnio com Rachel.
- Não sei por que ela trata as pessoas com tanta estupidez. É por isso que ela não tem nenhuma amiga aqui. – Mischa disse irritada.
Rachel foi para a biblioteca, visto que não queria ficar na presença de Mischa enquanto essa se arrumava para a tal festa. Após passar por todas as sessões Rachel finalmente pegou algo para ler, mas essa não conseguia se concentrar por alguma razão. Portanto, resolveu dar uma volta por todo o campus. A noite caiu e Rachel resolveu voltar para o apartamento. Enquanto voltava algo lhe chamou a atenção.
São 23:00 da noite e os corredores estão agitados. O que está acontecendo?
A menina continuou seu caminho até o bloco perto do lago. Os pingos de chuva começavam a cair do céu negro. Rachel se apressou um pouco para não pegar a tempestade que estava por vir. Quando chegou ao apartamento percebeu que Mischa já havia saído. O cheiro do perfume da garota estava por toda parte. Rachel suspirou e foi para o banho.  Passados 15 minutos Rachel saiu do banho e foi ler o boletim diário do colégio, visto que hoje não havia tido tempo para lê-lo. Boa parte do que era noticiado era irrelevante para Rachel, mas ela gostava de acompanhar o calendário de competições. Após lê-lo, o jogou sobre a mesa e foi para a janela observar a chuva que estava por vir. Ao longe viu que o bloco próximo à quadra de esportes estava todo iluminado e podia se ouvir certa música.
Rachel supôs que seria a festa para a qual Mischa havia ido. Como estava com insônia, à menina vestiu seu casaco e desceu as escadas para ir até o saguão. Algumas meninas se encontravam no corredor. Aparentemente, não haviam sido convidadas para a festa.
- Dizem que a Toxic está interessada na novata. – disse uma das garotas que estava sentada no degrau da escada.
- Aquela loira do segundo ano não é? – a menina riu ironicamente – A Toxic vai acabar com ela, e não há ninguém que vá tentar impedir a Toxic, afinal, ela tem a ficha criminal maior do que a quantidade de foras que Madson já levou. – as duas meninas riam.
Rachel ao ouvir a conversa das garotas ficou em fúria. Portanto, tentou respirar antes de fazer alguma bobagem. O melhor era obter informações concretas.
- A Toxic está dando aquela maldita festa de primeiro de aula então? – perguntou Rachel as meninas, essas se assustaram, porém, sorriram maliciosamente.
- Sim. Você não foi convidada? – perguntou uma delas.
- O que vocês estavam falando a respeito de uma garota que a Toxic está afim? – perguntou Rachel sem ligar para as piadas das meninas.
- Acho que é Mischa o nome da garota. Toxic estava falando com Alex e Katherine que não ficaria satisfeita enquanto não fizesse tudo e mais um pouco com essa garota. – a menina tinha um sorriso nos lábios.
Rachel nem se quer esperou para ouvir o resto da história e desceu as escadas indo em direção ao bloco ao lado do refeitório. O vento uivava e o céu estava escuro. Logo, a chuva iria cair. Quando adentrou o saguão Rachel foi falar com uma menina ruiva e com tatuagens no braço esquerdo que estava sentada próxima à lareira.
- Tracy, preciso de um favor. – disse Rachel ofegante.
- Aqui não. – disse a menina friamente.
As duas saíram do saguão e foram para fora do prédio. A chuva havia começado a cair.
- Preciso de um convite para a festa da Toxic. – disse Rachel. – Pode me conseguir um?
- Posso, mas o que você vai fazer lá? – perguntou Tracy.
“Salvar a minha garota!”
- Apenas me arrume o convite. – disse Rachel com o cenho franzido.
- Tudo bem. Aqui está. – disse a menina enquanto entregava o convite um pouco amassado que estava em seu bolso.
- Fico te devendo essa. – disse Rachel enquanto virava as costas.
O bloco onde estava acontecendo à festa era praticamente do outro lado do campus. Portanto, Rachel correu em meio à chuva que caia. Seus olhos estavam enfurecidos. Essa não era a primeira vez que Rachel sentia o ódio correr pelas suas veias.
Quando finalmente chegou ao local da festa Rachel foi logo adentrando e jogando o seu convite nas mãos de uma garota que estava na portaria. O lugar parecia um covil de lobos. Por todos os lados garotas seminuas beijavam outras garotas. O cheiro de álcool e cigarro exalava por todo o lugar. Tudo estava muito escuro, mas Rachel sabia por onde começar a procurar Mischa. A menina subiu até o último andar pelas escadas, estava cansada e ofegante. Quando chegou ao corredor, esse estava deserto e havia apenas duas garotas ao seu fim.
- Você não pode entrar ai. – disse uma delas.
Rachel olhou para a menina com seus olhos de fúria e a empurrou, a outra foi ao seu socorro deixando o caminho livre para Rachel. A porta estava trancada, mas Rachel tinha certeza que Mischa estava lá. Portanto, não hesitou em chutar a porta e abri-la.
- QUE PORRA É ESSA? – perguntou Alex ao ver Rachel entrando.
- Sai da minha frente agora! – disse Rachel enquanto adentrava o quarto.  
- Você não pode entrar aqui! – insistiu Alex.
- CALA A SUA BOCA AGORA! – Rachel pegou a menina pela garganta e a jogou no sofá.
A fúria estava em seus olhos e o ódio corria pelas suas veias. A porta de um dos quartos estava trancada, por todo o apartamento havia cheiro de drogas e álcool. Era repulsivo.
- Você não sabe o quanto eu queria tocar esse seu corpo. Desde o dia em que te vi quis te ter para mim. E agora você é minha. – disse Toxic.
- Eu quero ir para casa. – murmurou Mischa que estava completamente bêbada.
- Ir para casa? Só quando eu não quiser mais nada de você. Sabe, você precisa ser mais esperta! – Toxic ria.
- Me deixe ir embora. Minha cabeça está girando, eu quero ir para casa. – Mischa pedia com a voz falha.
- Você é minha! – disse Toxic após dar um gole em uma garrafa de vodca.
Ao ouvir isso Rachel sente seus olhos ardendo e desta vez não era devido a fumaça. Sem pensar duas vezes a menina arrombou a porta novamente com o chute surpreendendo Toxic.
- QUE PORRA É ESSA? – gritou Toxic que estava sem camiseta.
- SOLTA ELA AGORA! – gritou Rachel sem se quer olhar para Mischa.
- QUAL É O SEU PROBLEMA, RACHEL? ATÉ QUANDO VAI QUERER SER A HEROÍNA DA HISTÓRIA? – ironizou Toxic. – Você não deveria estar chorando pela Blair?
- CALA A SUA BOCA! – o sangue de Rachel fervia em suas veias, o que fez com a menina desse um soco na rival.
Toxic não hesitou e partiu para cima de Rachel, várias sequencias de chutes e socos foram dados, até que Toxic deu um soco no nariz de Rachel, que a derrubou. Enquanto Rachel se levantava viu Toxic indo em direção à cama onde Mischa estava seminua.
- NÃO TOQUE NELA! – gritou Rachel que em seguida deu um soco no rosto de Toxic que caiu no chão do quarto.
Rachel estava ofegante e ao ver a rival nocauteada respirou fundo. Sem perder tempo Rachel pegou Mischa em seus braços e a envolveu com seu casaco. Ela precisava tira-la dali.
- ELA É MINHA GAROTA! – disse Rachel com Mischa nos braços para Toxic e em seguida cuspi lhe no rosto.
Mischa mal conseguia abrir os olhos, sua cabeça estava girando. Rachel, portanto, tentou sair o mais rápido possível daquele covil de lobos. Nos corredores as garotas olhavam para Rachel que estava com o nariz sangrando e com Mischa seminua em seus braços. Rachel apenas ignorou. A chuva estava forte, porém, Rachel não hesitou e atravessou todo o campus com Mischa nos braços. As gotas ferozes de chuva caiam em seu rosto que sangrava e lhe fazia gemer de dor. Seus músculos estavam esgotados.  Quando chegaram ao apartamento Rachel tratou de deixar Mischa no sofá e ir até o armário pegar lhe uma toalha. Rachel secou todo o corpo da menina que estava frio e molhado. Mischa tinha uma expressão desolada no rosto. Estava dopada.
O que fizeram com você? Minha pequena...
Os olhos de Rachel já não estavam cheios de fúria, mas estavam vazios. O sangue escorria pelo seu rosto e seus músculos gritavam quando Mischa abriu os olhos.
- O que houve com você? – disse a menina com a voz baixa.
- Não importa. Você está bem? – perguntou Rachel com a voz falha.
- Minha cabeça doí e eu estou com frio. – disse a menina após fechar os olhos.
Rachel apesar de estar sangrando e toda molhada, ergueu a menina em seus braços outra vez e a levou até o banheiro para lhe dar um banho quente. Após ligar o chuveiro colocou Mischa sentada no box. A água caia sobre o rosto cansado da menina que estava apenas de sutiã e calcinha. Rachel ficou a observar a garota e uma culpa imensa caia sobre sua consciência.
Eu não deveria ter a deixado tão sozinha, tão largada com todas essas garotas por ai.
- Rachel? – sussurrou Mischa.
Rachel virou-se e olhou a menina que tinha um sorriso torto no rosto.
- Vem até aqui. – pediu a menina. – Por favor.
Rachel sem hesitar atendeu ao pedido da menina e adentrou o chuveiro. Mischa sorria feito um anjo. Rachel tentou sorrir, mas a dor lhe impedia. Mischa se aproximou da menina e a abraçou forte. Rachel sentiu todos os seus músculos estremecerem e o sangue que estava em seu rosto estava sendo tirado pela água quente. Fazia tempo que Rachel não recebia um abraço e agora ver aquela menina tão frágil e tão bela em seus braços era quase um sorriso em um dia de verão.
- Obrigada. – Mischa olhou no fundo dos olhos de Rachel e passou a mão por onde estava ferido em seu rosto.
Rachel nada disse, apenas fechou os olhos. Mischa passou a mão por todo o rosto da menina e lhe ergueu pelo queixo.
- Eu não sei o que seria de mim sem você essa noite. Você sabe que ninguém faria isso por mim, apenas você. – Rachel permanecia de olhos fechados, apenas ouvia o que a garota falava. – Me perdoe por interpretar toda a sua solidão e rispidez de maneira rasa. Eu sei que dentro de você a alguém forte e com um coração gigantesco, porém, partido em pedaços. Mas depois dessa noite, eu quero cuidar dos pedaços do seu coração. – sussurrou a menina no ouvido de Rachel.
Rachel apenas suspirou. Mischa sorria e aproximou seu rosto do rosto de Rachel e lentamente tocou seus lábios. As lágrimas começaram a escorrer pelos olhos de Mischa. Rachel a abraçou e sussurrou: “Eu sempre estarei aqui”.
A chuva caia ferozmente do lado de fora, mas corações seriam aquecidos essa noite. 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Capitulo II


O dia mal havia começado e Rachel se levantou, tomou banho e se vestiu. O ventou uivava lá fora, o que fez com que a menina vestisse seu casaco azul marinho com capuz. Rachel saiu sem fazer nenhum ruído para não acordar Mischa. Logo, foi até a diretoria. A menina queria resolver o problema antes que esse a causasse outro.
- Bom dia, Professora Mcfighter. – disse Rachel a encontrar a diretora que acabava de chegar.
- Bom dia, Rachel! Como tem passado? Aconteceu algo grave, visto estar aqui tão cedo? – perguntou a professora enquanto adentrava em sua sala.
- Mais ou menos. – respondeu Rachel se sentando na poltrona frente à diretora. – É sobre o fato de esse semestre eu ter uma colega de quarto. Isso não era para acontecer. – a menina franziu o cenho.
- Ah, eu já esperava que você viesse aqui para falar sobre isso. – disse a Mcfighter enquanto abria as cortinas. – A verdade é que o West Dynamik está lotado, não havia outra opção se não colocar Mischa Brodowski em seu apartamento.
- Não há nenhuma outra vaga? Isso é impossível. Professora Mcfighter você sabe que eu me esforço em todas as disciplinas e me dedico à monitoria para manter esse privilegio, portanto, devo permanecer com ele. – alegou a menina.
- Eu compreendo, mas não posso fazer nada no momento. Se por acaso alguma garota for transferida eu transfiro a senhorita Brodowski de apartamento. No momento, é só isso que posso lhe oferecer como resposta. – declarou a professora enquanto abria a porta para Rachel.
Rachel saiu da sala em constante indignação. A menina não conseguia admitir o fato de ter que conviver com Mischa por seis meses. O problema não era a menina e sim ela mesma.
Era só o que me faltava. Justo agora que eu precisava ficar em constante solidão isso me acontece. Deve estar feliz, Senhor Destino. Agora, eu só espero que essa garota não me traga problemas.
Rachel então se direciona para o carvalho branco, visto que as aulas só começariam no dia seguinte, a menina aproveitou para terminar o livro que vinha lendo desde a Irlanda. O sol estava entre nuvens e o vento continuava a uivar. Era um dia frio e escuro, o favorito de Rachel.
Mischa acordou quando o relógio marcava 9:17 da manhã. Essa se espreguiçou na cama e em seguida foi até a sala ver se Rachel se encontrava, essa já havia saído há tempos. Mischa tomou banho e quando terminou resolveu ir procurar Chelsea e tomar café com ela. Enquanto descia as escadas Mischa notou alguns olhares e sorrisos interessados nela. A menina apenas sorriu torto, ela se divertia com essa situação.
Chelsea tinha razão, é quase impossível se manter hetéro nesse lugar. Além do mais algumas garotas são realmente atraentes. Oh, Meu Deus, o que estou pensando?
Mischa sorriu para si mesma e continuou seu caminho. Quando se aproximava do bloco em que se situava o apartamento de Chelsea a encontrou no saguão.
- Bom dia, Chel! – disse Mischa sorrindo.
- Bom dia, Misch. – respondeu Chelsea lhe dando um beijo no rosto.
- Meninas, essa é a Mischa a garota de quem lhes falei. – disse Chelsea para as meninas que lhe acompanhavam.
- Prazer, eu sou a Diana. – disse uma menina com cabelos ruivos e sardas nas bochechas.
- Eu sou Parcy! – disse a garota com cabelos curtos e negros como a noite. Essa usava maquiagem pesada ao contrário das outras meninas.
- Muito prazer, meninas! – Mischa sorriu para ambas. – Já tomaram café? Se não, que tal irmos até a cafeteria? – sugeriu Mischa.
Todas concordaram. Parcy era uma garota pouco extrovertida, ao contrário de Diana que foi conversando e perguntando tudo sobre a vida de Mischa a ela.
- Quer dizer que você divide o quarto com a Rachel? – perguntou Diana com um sorriso intenso.
- Sim, mas logo me mudarei de quarto. – respondeu Mischa enquanto caminhavam pela grama molhada.
- Por quê? – perguntou Diana achando estranho.
- Aparentemente, ela não gosta de companhia. – respondeu Mischa com um sorriso amarelo.
- Desde que a Blair foi embora ela nunca mais quis manter contato com ninguém. – disse Parcy pela primeira vez interagindo sobre o assunto.
- Quem é Blair? – perguntou Mischa.
- Era uma das garotas mais belas que esse colégio já teve. Rachel era namorada dela e todas as meninas do West Dynamik queriam ter um namoro com o delas. As duas caminhavam de mãos dadas e sorriam o tempo todo. – respondeu Chelsea.
- E depois que elas terminaram, Rachel se tornou uma pessoa amarga e totalmente ríspida. Apenas as garotas mais antigas do West Dynamik sabem disso. – completou Parcy.
- Essa talvez seja uma das razões pelas quais todas as meninas buscam conquistar a Rachel. Quem via como ela tratava a Blair passou a deseja-la em todos os seus pensamentos e sonhos. – disse Diana com os olhos brilhando.
- E porque elas terminaram? – perguntou Mischa quando chegavam ao café.
- Ninguém sabe. Existem milhares de boatos, mas são apenas histórias que as pessoas inventam para sustentar sua tremenda curiosidade. – respondeu Chelsea.
As meninas chegam ao café e logo fazem seus pedidos. Mischa continuou pensando no assunto que havia tratado com as meninas. Ela não conseguia imaginar Rachel sendo uma pessoa dócil e amável.  Se tudo aquilo era mesmo verdade, Blair havia feito um grande estrago.
- Mas e você, Mischa já se interessou por alguma garota do colégio? – perguntou Diana enquanto desenhava em um guardanapo.
- Eu? Não, não. Eu tenho namorado. – a menina sorriu,
- E o que isso importa? O que acontece aqui fica aqui. – disse Parcy encarando a menina.
- Compreendo. É só que eu o amo e nunca me interessei por garotas. Nada contra! – disse Mischa.
- É, eu também não me interessava por garotas até conhecer a Frida. – disse Chelsea.
- Frida? – perguntou Mischa. – É sua namorada?
- Não. Ela era professora de geografia, e acabamos tendo um caso. Dai em diante, descobri que meu lugar era nos braços das mais belas garotas do West Dynamik. – respondeu a menina.
Todas as garotas riram e Mischa ficou a pensar se havia se interessado em alguma garota. Era fato que havia garotas muito bonitas, mas Rachel era a única que a fez cogitar beijar uma garota.
Porque estou pensando nisso outra vez? Devo estar querendo-me martirizar. Essa garota nunca olharia para mim, e eu tenho o Matt.
Porém, Mischa não poderia negar que sua curiosidade estava aguçada.
Enquanto isso, Rachel ia até a secretária pegar seus horários de aulas e monitorias. Lá, essa encontra Tark - Uma garota com quem dividia a monitoria de geopolítica, essa tinha cabelos louros e curtos, além de uma tatuagem nos ombros.
- Como tem passado Rachel? – perguntou a menina.
- Bem e você? Desistiu da geopolítica? – perguntou Rachel enquanto conferia seus horários.
- Bem. Na verdade, estou sem tempo para monitoria. O exame final se aproxima preciso me dedicar mais. – respondeu a menina rispidamente.
- Compreendo. Até mais. – disse Rachel que virou as costas e foi em direção ao refeitório. Essa não havia comido nada desde o amanhecer.
Chegando ao refeitório Rachel encontra Mischa e mais três garotas que ela já havia visto pelos corredores.
- Eu preciso falar com você. – disse Rachel friamente.
- O que houve? – perguntou Mischa após se afastar das amigas.
- Fui até a secretária e descobri que teremos que dividir o apartamento até o fim do semestre, pelo visto esse lugar está lotado. – disse Rachel fitando o espaço negativo a sua frente.
- Por mim, não há problema nenhum nisso. – respondeu Mischa com um sorriso.
- Compreendo. Era só isso. – disse Rachel que em seguida virou as costas.
- Não quer almoçar conosco? – perguntou Mischa.
- Ah, não. Tenho reunião de monitores agora. – respondeu Rachel que continuou caminhando em direção ao auditório.
Mischa se sente levemente decepcionada e Rachel ao se virar percebe essa expressão no rosto da menina e fica surpresa. Porém, Mischa resolve almoçar com as amigas que logo tratam de se sentarem em uma mesa próxima a fonte. Enquanto conversavam Mischa sentiu o celular vibrando e ao perceber que se tratava de uma mensagem multimídia de Dorothy, sorriu. Quando abriu a mensagem, Mischa viu a foto de Matt beijando Austin, uma garota de seu antigo colégio. Seus olhos se encheram de lágrimas, porém, essa não queria que suas amigas percebessem que o garoto que ela tanto idolatrava não passava de um idiota como todos os outros.
Faz apenas dois dias que estou aqui e ele já está com outra? Porque ele não me disse que queria terminar? Seria tudo tão mais fácil... Ah, Meu Deus, eu não sei o que fazer agora, o que pensar. Minha vontade é voltar para casa e dar-lhe uma surra, mas eu não posso. Tudo que eu quero agora é deitar e esquecer que o mundo existe.
Mischa, portanto, trata de terminar logo seu almoço. Ao terminar alega ter que ir para o apartamento terminar de organizar suas coisas. As meninas se despedem e Mischa se sente aliviada por não ter que dar satisfações a nenhuma delas. Ela cogitou ligar para Dorothy ou Sarah, mas no momento ela não queria falar com ninguém. Quando chegou ao apartamento percebeu que Rachel ainda não havia voltado, com isso a menina se deitou no sofá e começou a chorar. Três anos estavam a escorrer pelo ralo da desilusão amorosa.
Após uma reunião entediante onde os professores repassaram todos os objetivos e o regulamento de monitoria, Rachel voltou para o apartamento. Ela estava cansada e com fome. A menina foi comendo pelo caminho e quando chegou viu que a porta estava trancada com apenas uma volta, Mischa deveria estar no apartamento. Rachel entrou sem fazer nenhum ruído, afinal, Mischa poderia estar dormindo e ela não queria acorda-la. Porém, Rachel foi surpreendida com Mischa jogada no sofá e aos prantos. Rachel se congelou, ela não sabia o que fazer diante de tal cena. Aparentemente, Mischa não havia percebido a sua presença. Depois de muito pensar, Rachel se aproximou do sofá e se ajoelhou diante a menina.
- O que houve? – perguntou quase sussurrando.
Rachel não obteve respostas, porém, resolveu perguntar outra vez.
- Mischa, está tudo bem? – insistiu.
Rachel novamente não obteve respostas e entendeu que a menina queria ficar sozinha, portanto, se levantou e foi em direção ao seu quarto. Quando deu dois passos ouviu um murmuro.
- Rachel? – disse Mischa com a voz falha.
- Sim. Aconteceu algo com você? – perguntou Rachel enquanto voltava.
Mischa se sentou no sofá e secou suas lágrimas. Rachel se sentou ao lado da menina e se pôs a ouvi-la.
- Descobri que o garoto que eu namorava há três anos me traiu dois dias após eu vir para cá. – disse a menina fitando o chão.
Rachel pensou durante alguns segundos no que dizer, isso realmente havia mexido com seu interior.
- Sabe, todos nós estamos sujeitos a isso. Não importa o quão você seja bom ou ruim, alguém sempre vai se esquecer disso. – declarou Rachel sem olhar a menina.
- É...- Mischa suspirou. – Desculpe, mas você já passou por isso? – arriscou Mischa.
- Talvez. As coisas são complicadas quando se envolve sentimentos. Mas a verdade é que sempre alguém vai sair ferido, independente do quão verdadeiro pudesse ser o sentimento. – as palavras saiam da boca de Rachel feito cacos de vidros passando pela sua garganta.
- Nossa...Eu não sabia que você era tão sentimental. – disse Mischa em um impulso.
- Você deve ter ouvido coisas horríveis sobre mim. – disse Rachel com um sorriso nos lábios.
Mischa ao ver o sorriso da menina se encantou, era um sorriso puro, sincero e malicioso ao mesmo tempo.
Encantador!
- Mais ou menos. A maioria das garotas quer ter você como namorada! – contou Mischa.
- Isso é irrelevante para mim. – Rachel fitava a janela aberta agora. – Mas se quer um conselho, não sofra por alguém que partiu o seu coração sem nenhuma objeção. – após dizer isso Rachel se levantou e foi em direção ao quarto.
Quem diria? Nota-se que essa tal Blair dilacerou o coração dela. Nunca vi tanta magoa e dor nos olhos de alguém. Acho que ela nunca deve ter falado sobre isso com alguém. Agora eu realmente começo a entender o porquê dela ser tão arrogante. Mas como diria o vovô “por trás de uma colina sempre há um mar de girassóis”.
Rachel logo quando chegou ao quarto se deitou na cama e ficou a fitar o teto. Todas as palavras que ela havia dito a Mischa rondavam sua cabeça como em um remake. Porém, o problema maior era sentir que falar com aquela menina até então desconhecida lhe aliviava a dor e as magoas que essa carregava. Após ficar deitada por quinze minutos, Rachel se levanta e vai até a sala retomar os estudos. Quando passa pela porta do quarto de Mischa percebe que a menina esta a arrumar suas coisas no armário.
Após alguns minutos de leitura, Rachel ouve Mischa chamando por ela. A menina se levanta e vai em direção ao quarto da menina descobrir o que se passava.
- O que é? – perguntou Rachel rispidamente.
- Eu não consigo abrir a última porta do armário, está emperrada. Pode me ajudar? – perguntou Mischa com um sorriso no rosto.
- Posso tentar. – respondeu Rachel.
Rachel tirou os tênis e subiu na cama de Mischa para poder alcançar a porta emperrada. Mischa ficou a observar a garota e percebeu que essa tinha um corpo realmente atraente. A menina tentou desviar o olhar, mas foi em vão. Após um estorno, a porta se abriu e Rachel desceu da cama e botou os tênis novamente.
- Obrigada. – disse Mischa quando Rachel saia do quarto.
O que foi que acabou de acontecer comigo? Eu só posso estar enlouquecendo. Será que o efeito Rachel está caindo sobre mim? Não, tudo não passa de uma confusão. O Matt me traiu, ela me consolou, eu acho. E eu estou sensível, apenas isso. Mas será que atração física tem alguma coisa a ver com isso? Ah, Mischa deixa de besteira!
Enquanto estudava Rachel encontrou uma carta antiga em meio às páginas do livro de história. A carta ainda tinha o cheiro dela. Rachel cogitou em abrir e reler, mas evitou. Não seria bom. Já fazia tempo que tudo havia acontecido, não valia a pena continuar se martirizando. Isso teria que acabar de uma vez por todas. Nesse momento, Mischa volta para a sala e se senta no sofá.
- Ah, Meu Deus, como eu estou cansada! – reclamou a menina.
A menina vestia um short preto e uma camiseta branca que deixava sua barriga exposta, além do cabelo preso em um rabo de cabelo. Rachel tira os olhos do livro e olha para a menina em sinal de que havia ouvido ela. Rachel quase sorriu ao ver a menina tão cansada e tão bela.
Talvez seja hora de deixar tudo para trás e buscar algo novo. Um novo suicídio. Mischa mexe comigo desde a primeira vez que a vi na cafeteria. Sei que ela é totalmente o meu oposto, mas eu sinto tanta fragilidade nessa garota. Talvez eu queira cuidar dela e lhe dar o meu coração em troca. Mas arriscar seria como pisar em cacos de vidro aquecido.
- Acho que vou dar uma saída! – disse Rachel se levantando e pegando seu casaco sobre a mesa.
- Tudo bem. Não demore. – disse Mischa sem se quer perceber.
Rachel sai e fica a pensar no que a menina disse. Tudo estava tão confuso e fresco em sua mente que ela não sabia para onde ir. A melhor coisa a se fazer agora era ir para embaixo da copa do carvalho branco e ler um bom livro. Enquanto isso Mischa foi tomar uma ducha e relaxar depois de tanta organização. Após o banho, Mischa se enrola na toalha e vai até o quarto se vestir. Essa olha pela janela e vê que Rachel lê embaixo do carvalho. Mischa começa a relembrar de todos os momentos “casuais” que teve com Rachel. E um sentimento começa a nascer dentro de si. Sentimento esse que Mischa nega, pois sabe que não é certo e que vai se magoar. Afinal, Rachel não se importava com ninguém, em contrapartida, ela havia sido tão doce com Mischa naquele tarde.
Porque isso está acontecendo? Eu conheço essa garota a dois dias, não posso estar...gostando dela. Não é possível. Mas e se for? O que farei? É melhor eu tirar isso da minha mente. Ela jamais olharia para mim, porque eu até posso ser atraente para as outras garotas, mas para ela eu não era. E além do mais ela era apaixonada por outra garota. Porque eu me sinto triste com isso?
A tarde se foi em um estalar dos dedos e a noite tomou seu lugar. A lua estava cheia e iluminava todo o campus. Mischa que acabará de acordar foi para a sala assistir televisão e percebeu que Rachel não havia voltado ainda. Após alguns minutos Rachel chega ao apartamento, sua mente estava limpa e tranquila agora.
Não vou pensar muito, o suicídio continua.
- Pensei que ia dormir lá fora. – brincou Mischa.
- Eu já fiz isso algumas vezes, na beira do lago, é realmente fascinante. – Rachel sorriu serenamente.
- Se quiser me levar algum dia. – Mischa sorriu e se sentou no sofá para que Rachel pudesse se sentar.
- Quem sabe. Aliás, você deve estar com fome, vou fazer o jantar se quiser se servir. – ofereceu Rachel.
- Mas é claro, e qual será o cardápio? – perguntou Mischa empolgada.
- Macarrão ao molho branco com brócolis. – respondeu Rachel se levantando e deixando o casaco sobre o sofá.
- É um dos meus pratos favoritos. Porém, quero te ajudar no preparo. – sugeriu Mischa já prendendo o cabelo.
- Não precisa, mas se faz questão, tudo bem! – Rachel sorriu.
As duas começam a cozinhar, enquanto Rachel faz o macarrão, Mischa faz o molho e pica os brócolis. Por diversas vezes Rachel sente Mischa a enconchando e sentia um arrepio percorrer o seu corpo. Aparentemente, a menina fazia isso sem se quer perceber.  Após terminarem de preparar o jantar as duas se servem e Rachel se senta sobre o balcão para comer. Mischa a olha e sorri se sentando ao lado da mesma.
- Talvez não seja tão ruim ter alguém para dividir esse apartamento. – disse Mischa enquanto jantavam.
- Talvez. – Rachel sorriu.
Após terminarem o jantar Rachel vai lavar a louça e Mischa guardar as coisas espalhadas pela cozinha.
- E então, o que você gosta de fazer? Além de ler é claro! – perguntou Mischa.
- Eu gosto de viajar e espairecer a minha mente. Viajar sem rumo, conhecer culturas e lugares diferentes. Além de escrever alguns textos por deleito. – Rachel sorria.
- Nossa! Eu nunca iria adivinhar isso sobre você! – disse Mischa se espantando. – Eu fazia balé antes de vir para cá e era realmente a minha paixão. – a menina sorriu.
Após conversarem sobre seus hobbies. Rachel contando sobre suas viagens e Mischa sobre as apresentações de ballet que havia feito, Mischa disse que iria dormir e foi-se deitar enquanto Rachel terminava de guardar as coisas. Quando Rachel vai dormir passa pelo quarto de Mischa e fica a observa-la, a menina dormia tranquilamente. Estava claro que Rachel estava se apaixonando por Mischa.  

Capitulo I



             Primeiro dia de aula, uma euforia para alguns e um dia como qualquer outro para mim. Detesto as pessoas deste lugar. Porque ainda estou aqui? Porque este é o melhor colégio de todo o leste europeu, apenas isso. A maior parte das pessoas aqui age como se tudo não passasse de um conto de fadas. Talvez eu seja uma pessoa muito amarga e não consiga estampar sorrisos falsos, mas a verdade é que tudo aqui não se passa de farsas. Cerca de noventa por cento das meninas que estudam no West Dynamik são esquecidas pelos pais milionários. O meu caso não é diferente. Mas a respeito das coisas boas, o WD é fascinante. A arquitetura, o corpo docente, o lago e todas as estações do ano se tornam perfeitas nesse lugar.
               Há sete anos quando cheguei aqui pela primeira vez eu estava eufórica como todas as meninas que encontrarei pelos corredores hoje, mas hoje, eu vejo que não dá para ser feliz o tempo todo. Eu tive o coração partido 5 vezes. Devo ter partido corações alheios inúmeras vezes, isso fez com que meus olhos se tornassem vazios e o meu coração petrificado. Mas isso não interessa a ninguém, apenas a mim. Esse ano não vai ser diferente, exceto pelas frustrações e por ser meu último ano no ensino médio.
                A chuva caia lá fora enquanto Charlie, o motorista, adentrava o colégio rustico que contracenava com uma paisagem formidável. Mudar-me para um colégio interno era algo que eu ainda estava digerindo. Meus pais me trouxeram para cá alegando ser o melhor colégio do leste europeu, mas a verdade é que o casamento deles não está bem. Mamãe chora no quarto todas as tardes e papai vai a casa apenas uma vez ao mês.  O que me faz pensar que essa mudança realmente seja boa para mim. O único problema é o Matt, meu namorado, estamos juntos há três anos e agora irei vê-lo apenas a cada trimestre. Sarah e Dorothy alegaram que seria melhor terminar o relacionamento, eu discordo, afinal, é um colégio interno para garotas, apenas garotas. Não há nenhum motivo para desistir do Matt. Charlie estacionou o carro e após me despedir desse, entrei no saguão do colégio. Realmente era um belo lugar, mas aparentava ser repleto de regras e pessoas para quebra-las. Sorri para o lugar, quem sabe as coisas não fossem tão ruins. Tratei de logo ir até a recepção descobrir qual seria o meu apartamento e se eu teria alguma companheira de apartamento. O saguão estava lotado de garotas e eu completamente perdida, a solução seria perguntar para alguém.
- Me desculpe, mas pode me informar como faço para chegar até a recepção? – perguntou Mischa. – A menina tinha os cabelos dourados pelo sol e os olhos azuis como o mais profundo mar. Os traços do seu rosto haviam sido desenhados com calma e perfeição, podia ser considerada uma princesa fora de seu reino.
- Mas é claro! – respondeu Chelsea. – Uma menina também muito atraente, com cabelos negros até a cintura e profundos olhos negros, além de um sorriso malicioso.  – Você é nova por aqui?
- Sim! Acabei de ser transferida e estou totalmente perdida. Queria saber qual será o meu apartamento e meus horários para as aulas. – respondeu a menina que tinha uma voz suave.
- Entendo, mas é melhor você pegar isso depois que todas as outras meninas pegarem, que tal tomarmos um café? Tem uma ótima cafeteria aqui, e eu aproveito e mostro tudo para você. – Chelsea sorria estonteante.
- Tudo bem, e obrigada! Pois, não quero ficar perdida pelo campus. –a menina sorriu. – Ah, me desculpe, qual é o seu nome? O meu é Mischa.
- Belo nome. O meu é Chelsea.  – respondeu a menina enquanto caminhavam em direção à cafeteria que ficava ao lado do carvalho branco.
                No caminho Mischa falava um pouco de si e Chelsea se mantinha interessada. Aparentemente, ambas se tornariam grandes amigas. Afinal, coisas em comum não lhes faltavam. Desde literatura a ícones da moda eram partilhados. Quando chegaram a cafeteria se sentaram em uma mesa encostada na parede. O café era realmente um lugar agradável. Havia uma lareira na esquerda e quadros de todos os movimentos artísticos, além de posters de ícones da música. Mischa adorou o lugar. Era tão vintage. Logo, as duas pegaram o cardápio e optaram por um Frappuccino e Cookies.
               Enquanto as duas conversavam e Chelsea contava sobre o corpo docente do colégio, Rachel entrou no café e todos os olhares se voltaram para ela. Rachel tinha os cabelos castanhos e os olhos verdes-oliva, sempre estava vestida com um jeans e camiseta, ambos pretos, e um tênis vermelho. Além de um rosto com traços marcantes e encantadores segundo as garotas do West Dynamik. Além de todo o mistério que essa exalava. Como o de costume pediu o clássico café latte no balcão e se sentou ali. A menina tirou um livro escrito em russo do bolso e começou a ler. Sem se quer olhar para os lados.
                 Vários cochichos começaram a ser feitos por todo o café. Podia se dizer que ela era o sonho de consumo da maioria das garotas, o por quê? Ninguém sabia responder, apenas confirmavam.  Todas elas contavam diversas histórias sobre ela, mas essa não se pronunciava, apenas agia como se fosse só ela e o mundo.
- Qual o problema com a garota que acabou de entrar? – perguntou Mischa.
- É a Rachel. A garota mais cobiçada de todo o colégio. – respondeu Chelsea sem tirar os olhos de Mischa.
- Mas ela não é só uma garota como qualquer outra? – perguntou Mischa sem demonstrar estranhamento ao deduzir que as garotas se relacionavam umas com as outras. Essa não tinha preconceitos, apenas vivia em uma realidade distorcida disso.
- Aparentemente, mas após você ouvir algumas histórias sobre ela, você muda totalmente de opinião. Já ouvi dizer que todas as garotas com quem ela já teve um relacionamento, mesmo passageiro, correm atrás dela até hoje. Há também aquelas que dizem que o coração dela foi dilacerado tantas vezes, por amores que não deram certo. – contou Chelsea.
- Ela me parece uma garota intelectual e de poucas palavras, apenas isso. Porém, não vou negar que ela é bem atraente. – a menina sorriu.
- O efeito Rachel está caindo sobre você hein! – Chelsea riu. – Mas como você mesma disse, você tem um namorado, infelizmente.
- Infelizmente? Por quê? – Mischa ria da garota.
- Porque você é muito bonita, com todo respeito é claro!  Mas você faria bastante sucesso com as meninas se quer saber! – Chelsea sorria.
- Você é engraçada Chelsea! – disse Mischa enquanto se levantava para buscar os cafés quando viu a sua senha no painel.
Ao chegar ao balcão à menina ficou ali a espera dos dois cafés. Ao lado dela estava Rachel lendo seu livro. Mischa olhou para a menina que no mesmo momento a olhou também e Mischa sentiu um sentimento intenso invadir seu interior. Essa pegou os cafés e foi para a mesa ao encontro de Chelsea.
- O que houve? Viu algum fantasma? – perguntou Chelsea.
- Nada, apenas estava distraída. – respondeu tomando uma dose de seu café.
                   Apesar de ter vários olhares desconhecidos para mim, por uma razão que eu desconheço há anos, eu gosto de vir ao café e ficar lendo no balcão. Às vezes recebo algumas investidas engraçadas, porém, não dou muita importância. Após tomar um gole do meu café cheguei a conclusão que algumas memórias não se apagam, principalmente, quando se pisam nelas todos os dias.
- Acho que agora podemos ir, o saguão deve estar vazio. E eu acho que você deve estar cansada não é mesmo? – disse Chelsea enquanto se levantava e pegava sua bolsa.
- Com certeza! E também estou curiosa para saber que vai ser minha colega de apartamento! – Mischa sorriu e ambas foram caminhando até o saguão.
Enquanto caminhavam até o saguão Rachel passou pelas meninas e arrancou alguns suspiros de Chelsea, que deixou Mischa intrigada.
- Quantas vezes você já falou com ela? – perguntou a menina.
- Umas três vezes! – a menina sorria.
- E como pode suspirar tanto por ela? Eu não consigo nem se quer imaginar o ego dessa garota, visto que vocês o alimentam tanto. – falou Mischa rispidamente.
Chelsea preferiu não responder. As duas chegaram ao saguão e logo Mischa foi a portaria pegar seus horários e o seu apartamento. A menina descobriu que ficaria no bloco próximo a cafeteria e ao lado do carvalho branco, no terceiro andar e no apartamento 347.
Ao ouvir o apartamento em que Mischa ficaria Chelsea ficou em choque, mas preferiu não dizer nada, afinal, com certeza era um engano. As meninas se despediram e Chelsea passou o número e o bloco de seu apartamento para Mischa que guardou na mochila. Mischa foi em direção ao seu apartamento e no caminho colocou algumas ideias em ordem.
Como alguém pode ser apaixonada por uma pessoa que nunca nem se quer falou direito consigo? Essas garotas realmente têm problemas, espero não me meter em nada assim. Mas porque a Chelsea disse que eu faria sucesso aqui? Será? Acho completamente impossível, afinal, eu amo o Matt e vamos juntos para a faculdade.
A menina sorriu após concluir seus pensamentos e chegar a porta do apartamento. Ela tentou abrir a porta e essa estava trancada por dentro. Mischa supôs que sua colega de apartamento estava ali e resolveu tocar a campainha. A menina ouviu alguns passos vindos de dentro do apartamento e logo a porta se abriu.
- VOCÊ?! – Mischa e Rachel disseram ao mesmo tempo.
- Pelo visto você é a minha colega de apartamento. – disse Mischa conferindo o endereço do apartamento.
- Como assim? Esse apartamento é só meu há três anos! – disse Rachel indignada. – Me desculpe, eu sei que você não tem nada a ver com isso, mas foi à diretoria que me concedeu isso.
- Olha só, podemos resolver isso amanhã? Eu realmente estou cansada e queria poder tomar um banho e descansar. – disse Mischa rispidamente.
- Tudo bem, senhorita gentileza. – respondeu Rachel entrando no apartamento e deixando a porta aberta para Mischa.
- Pode me ajudar com as malas? – perguntou Mischa depois de oito minutos tentando colocar todas as suas malas no apartamento.
Rachel deu um sorriso torto e foi até o corredor ajudar a garota. No corredor a maior parte das garotas comentava euforicamente o fato de Rachel ter a novata como colega de apartamento.
- Nossa! Quão bom gosto você tem para decoração! – disse Mischa se sentando no sofá e observando todo o mobiliário e as peças de artes pelas paredes. – Alias, todos os apartamentos são grandes assim?
- Não. É um pequeno privilegio por obter as melhores notas e coordenar a monitoria. – respondeu Rachel sentada em no sofá e sem tirar os olhos do livro que continuava lendo.
- Entendi. Vou tomar banho. – disse a menina enquanto se abaixava e pegava uma troca de roupa em sua mala.
Rachel olhou por cima do livro e tentou engolir um sorriso. Mischa foi para o banheiro tomar banho e quando chegou nesse se sentiu impressionada com o aroma de auroras ao amanhecer. Além do mais as cerâmicas eram delicadas e robustas ao mesmo tempo. A menina se despiu e logo entrou no chuveiro quente e sentiu todos os seus músculos relaxarem, o dia havia sido cansativo e tudo que ela queria era deitar em uma cama macia e adormecer.
Porque colocaram justamente essa garota no meu apartamento? Às vezes eu acho que o destino gosta de brincar comigo. Pelo menos ela vai embora amanhã e todo esse desconforto termina. Porém, não vou ser hipócrita e negar que ela é estonteantemente bonita. Faz tanto tempo que tudo aconteceu, mas as marcas ainda doem no meu interior.
Mischa desligou o chuveiro e o banheiro estava todo embaçado pelo calor. Quando a menina foi se secar percebeu que havia esquecido a toalha dentro da mala.
- Que idiota! – disse para si mesma.
A menina olhou por todos os cantos e não havia nenhuma toalha, procurou nas gavetas e no armário e a resposta foi à mesma. Não havia outra opção ela teria que chamar por Rachel.
- RACHEL! – gritou a menina com a porta entre aberta.
Rachel que estava na sala estranhou o comportamento da menina.
- O quê? - respondeu
- Me esqueci de pegar a toalha, pode trazer para mim? Por favor! – pediu a menina com a voz macia e doce, coisa que Rachel ainda desconhecia.
- Tudo bem. – respondeu a menina que deixou o livro no sofá e abriu a mala da menina em busca de uma toalha. Superficialmente não encontrou e não achou devido mexer nas coisas da menina, então pegou uma que estava em seu armário.
Rachel bateu na porta e Mischa entre abriu-a. Mischa estava com o cabelo molhado e bagunçado. O vapor ainda estava contido no banheiro o que deixava a situação ainda mais impropria. Rachel ficou com os olhos vidrados em Mischa, coisa que não acontecia há MUITO tempo. Mischa também ficou com os olhos fixos em Rachel e suspirou profundamente.
- Pode me entregar a toalha? – perguntou Mischa sorrindo. – É que estou com frio!
- Ah, me perdoe! Acabei me distraindo. Aqui está. Não encontrei uma que fosse sua, então peguei uma minha. Mas fique tranquila peguei hoje na lavanderia. – disse Rachel desviando o olhar da menina.
- Não haveria problema se estivesse usada. Afinal, você me parece ser bem limpinha. – Mischa riu.
Que sorriso estonteante...
- Vou considerar isso um quase elogio, portanto, obrigada. – após dizer isso Rachel voltou para a sala e seus pensamentos estavam conturbados.
O que deu em mim? Eu estava flertando com minha colega de apartamento? Logo, eu que tenho um namorado jogador de Baseball e cobiçado por várias garotas? Não, não mesmo. É só que tem algo nela que me faz querer ir a fundo e descobrir porque um simples olhar dessa garota é tão...
Rachel voltou para sala e tentou se controlar na leitura, mas seus pensamentos estavam a mil. Seu coração estava partido, seu corpo pedia algo que lhe era proibido. A menina respirou fundo e foi até o quarto, quando passou pela porta do banheiro percebeu que a menina ainda estava lá. Quando se virou para dar meia volta trompou com Mischa que estava enrolada na toalha e com o corpo ainda molhado.
- Me desculpe, eu estava indo ler no quarto e percebi que esqueci meu livro e estava...- Rachel foi interrompida por Mischa.
- Não precisa se justificar, está tudo bem. Afinal, você não deve estar acostumada a dividir o seu apartamento com alguém. – Mischa sorriu e foi para o quarto que ficava ao lado do banheiro.
Rachel sorriu e voltou para a sala. Mischa chegou ao quarto e se sentou na cama, o que estava acontecendo com ambas?
Eu preciso sair desse lugar!
Ela precisa ir embora!